terça-feira, 22 de julho de 2014

HUMANISMO - LITERATURA PORTUGUESA

HUMANISMO EM PORTUGAL

Segundo Período - séc XV ao XVI (1418-1527) - baixa idade média



Iniciado em 1418, quando D. Duarte nomeia Fernão Lopes como guardador da Torre do Tombo, o arquivo central do Estado Português desde a Idade Média 

Termina quando Sá de Miranda retorna da Itália, em 1527, trazendo para Portugal a cultura clássica.

Esta época se caracteriza pelo HUMANISMO - fundamentalmente por um processo de humanização da cultura. Foi um movimento intelectual iniciado na Itáliaentre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, entre os séculos XV e XVI (Portugal 1418-1527). 

O desenvolvimento do comércio, o crescimento das cidades e  a prosperidade da burguesia mercante tornaram anacrônica a antiga ordem feudal (fechada, teocêntrica, agrária e descentralizada); assim como a criação de um novo tipo de nobreza, o desenvolvimento do comércio marítimo e as primeiras viagens de descobrimento pelo Atlântico. 

A burguesia -  alia-se à monarquia, fortalecendo o poder do rei, a quem dá sustentação política e paga impostos. 

Em Portugal, a reação burguesa contra a ordem feudal foi liderada por D. João I, o Mestre de Avis (dinastia portuguesa de Avis). 

Marca a transição da cultura teocêntricaisto é, tendo Deus  como escala de valores, religiosa e feudal para a cultura antropocêntrica, clássica, apoiada na consciência de que o homem é uma força criadora capaz de dominar o mundo e transformá-lo. É importante levar em consideração que essa mudança na maneira de conceber o mundo não ocorreu de uma hora pra outra e que a religiosidade  não desapareceu. Em Portugal marca-se pela convivência dos antigos valores medievais com os valores clássicos que predominarão no Renascimento, rompendo com a forte influência da Igreja e do pensamento religioso da Idade Média e em que conviveram duas visões de mundo: a teocêntrica e a antropocêntrica.

Por volta de 1439 -  Johannes Gutenberg inventou um tipo mecânico móvel para impressão começou  a Revolução da ImprensaA restauração da cultura clássica greco-romana repõe em circulação, acelerada, através da imprensa, as ideias dos modelos de Sêneca, Cícero, Ovídio, Tito LívioAristóteles, Platão. Essa ressurreição inicia-se  na, Itália. E Portugal, os clássicos chegaram indiretamente, através da Itália, dado o relativo atraso da imprensa. As primeiras oficinas tipográficas surgiram a partir de 1487.

Uma consequência direta, na área cultural é a criação de bibliotecas fora dos conventos. Os direitos ligados à individualidade também são valorizados.  A cultura torna-se laica.


Finaliza quando Sá de Miranda retorna da Itália, em 1527, trazendo para Portugal a cultura clássica do Renascimento. Em Portugal coincide com o apogeu do império português: sob o reinado de D. Manuel, o Venturoso, o país vive uma intensa euforia com os êxitos marítimos e com a prosperidade econômica. 

PRODUÇÕES LITERÁRIAS em Portugal
O segundo período medieval tomou quatro direções:

1. A prosa histórica
2. A prosa didática e moralizante 
3. A poesia palaciana
4. O teatro popular medieval de Gil Vicente.






PRODUÇÕES LITERÁRIAS

1. Crônica histórica

Considera-se que a historiografia portuguesa inicia-se com a atividade do primeiro cronista real: Fernão Lopes que, em 1418,  desempenhava as funções de guarda-mor dos arquivos reais da Torre do Tombo. O fato de Fernão Lopes ter que narrar eventos passados sobre os quais não havia testemunhas oculares, levou-o a fantasiar muitos aspetos dos quais ele nunca poderia ter conhecimento e a descrever situações num estilo completamente literário, assumindo o papel de narrador omnipresente e levando o leitor a sentir que ele próprio esteve presente em grande parte dos acontecimentos.

A função do cronista medieval consistia em «pôr em crônica», isto é, ordenar cronologicamente, os relatos de acontecimentos históricos. Os cronistas na Idade Média escreviam com profundidade e eloquência, imputando a sua própria análise àquilo que escreviam e muitas das vezes com bastante imparcialidade – sobretudo no relato de conflitos com nações estrangeiras – de modo a agradar ao Rei a que serviam. É por isso que os textos dos cronistas medievais, apesar de serem os melhores documentos de registo histórico da época, constituem-se também como formas de expressão artística literária.    De fato, nas suas crônicas, Fernão Lopes evoca-se todo um mundo agitado e intenso: as ruas e as praças das cidades, percorridas pelas multidões exaltadas; os castelos, cheios do rumor áspero dos combates; os vastos campos de batalha, onde se dispõem os exércitos prontos para a luta; o ambiente das cortes, com as suas intrigas subtis e os dramas de amor e ambição; o desespero quando as cidades eram sitiadas, os tumultos do povo e as aclamações festivas dos populares. É precisamente este estilo literário que acabou por servir de referência aos outros cronistas que lhe imitaram o estilo, fazendo dessas crônicas obras de grande valor literário.


2. Poesia palaciana

Com a centralização monárquica, o palácio torna-se o centro da produção cultural e artística. Os artistas abrigam-se na corte, sob a proteção dos reis e da nobreza, que se tornam seus mecenas (=protetores). Só a partir da segunda metade do século XV é que a Poesia volta novamente, e em força – um novo tipo de poesia, designada de “Poesia Palaciana”, mais refinada que a trovadoresca e que reflete o novo tipo de sociedade medieval. Essa poesia trata de assuntos da vida palaciana e reproduz a visão de mundo dos nobres e fidalgos que a produziam. O amor é tratado de forma mais sensual e a mulher já não é tão idealizada quanto no trovadorismoAo contrário da poesia trovadoresca que era cantada e onde as expressões dos camponeses eram valorizadas, a poesia palaciana era composta para ser lida ou declamada e valorizava a condição aristocrática, de modo que seus autores trabalhavam com maior zelo o poema. Devido a isso a Poesia Palaciana caracteriza-se por ser mais apurada, atraente e variada do que a Trovadoresca. 


Exemplo de Poesia Palaciana amorosa

“Senhora, partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,

Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.”


A poesia palaciana foi compilada em 1516, por Garcia de Resende, no Cancioneiro Geral, reúne a produção poética de três reinados: D.Afonso V, D João II e de D. Manuel.  O Cancioneiro Geral reúne:  880 composições, de 286 autores, dos quais 29 escreviam em castelhano.  


3. Teatro popular

Pai do teatro português, Gil Vicente também foi músico, ator e encenador. Sua obra trata de muitos temas, sempre com uma abordagem caracterizada pela transição entre a Idade Média e o Renascimento. Ou seja: do pensamento teocêntrico (marcado por elementos de religião, como céu e inferno) ao humanista (marcado pelo antropocentrismo e racionalismo).

Gil Vicente cresce nesse universo. Escreveu autos, comédias e farsas, em castelhano e em português. São conhecidas 44 peças, 17 em português, 11 em castelhano e 16 bilíngues. Destacam-se dois gêneros:

a) os autos, com a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã; 

b) as farsas, peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano.
Ambos são plenos de críticas à sociedade.
Entre os autos, a Trilogia das Barcas ("Barca do Inferno", 1517; "Barca do Purgatório", 1518; e "Barca da Glória", 1519) reúne peças de moralidade, que constituem uma alegoria dos vícios humanos; e o "Auto da Alma", de 1518, encena a transitoriedade do homem na vida terrena e os seus conflitos entre o bem e o mal. As farsas, como "Quem Tem Farelos?", 1515; "Mofina Mendes", 1515, e "A Farsa de Inês Pereira", 1523, realizam quadros populares de força moral e simbólica, num tom cômico mais contundente.
O ponto mais forte de Gil Vicente está na criação de tipos humanos como o velho apaixonado, a alcoviteira, a velha beata, o escudeiro fanfarrão, o médico incompetente, o judeu ganancioso, o fidalgo decadente, a mulher adúltera e o padre corrupto.
Escritas em versos, as peças estão repletas de trocadilhos e ditados populares. É importante ressaltar que a crítica do dramaturgo português é muito mais aos indivíduos corruptos do que à religião em si mesma, seus dogmas e hierarquias. Nesse aspecto, Gil Vicente crê no teatro como uma forma de denunciar a degradação dos costumes, seja na Igreja, na família ou entre as classes profissionais como os médicos ou sapateiros. Acima de tudo, acredita no poder do riso como uma maneira de recolocar o homem no bom caminho, aquele que o afasta do vício em direção à virtude.

Na Literatura, os autores italianos que maior influência exerceram foram: Dante Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro) e Bocaccio (Decameron). Os gêneros mais cultivados foram: o lírico, de temática amorosa ou bucólica, e o épico, seguindo os modelos consagrados por Homero (Ilíada e Odisséia) e Virgílio (Eneida).

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Katty Rasga