GÊNEROS e TIPOLOGIA


O ENSINO DOS GÊNEROS TEXTUAIS É MAIS UMA MODA EM
EDUCAÇÃO?


Para Schneuwly e Dolz, a escola sempre trabalhou com os clássicos gêneros escolares narração, descrição e dissertação ou com o estudo de gêneros literários, como o conto ou a crônica.


A novidade consiste em fazer com que a aprendizagem dos gêneros que circulam fora da escola - os literários, jornalísticos ou mesmo os gêneros cotidianos - seja significativa para o aluno e contribua para um domínio efetivo de língua, possibilitando seu uso adequado fora do espaço escolar.

Os autores levantam três das formas como os gêneros são usados na escola atualmente, as quais quase sempre aparecem mescladas:

1-  Gênero como objeto de estudo, fora de seu contexto de produção. O caso, por exemplo, de se estudar notícias com os alunos, retirando-as do jornal - seu lugar de produção e circulação - e anulando suas marcas textuais e gráficas específicas.

2 - Gênero estudado dentro de uma situação de produção ficcionalizada. É o caso de produzir um jornal na classe, como se fosse um jornal verdadeiro, para estudar as formas de produção e circulação de notícias de um modo mais próximo do que ocorre fora da escola.

3 - Gênero estudado numa situação real de produção
Utilizado pelos alunos para dizer algumas coisas a alguém. É o caso, por exemplo, da escrita de uma carta ao prefeito, solicitando que a rua da escola seja asfaltada, ou um debate com pessoas convidadas para falar de orientação sexual para pré-adolescentes, em que os debatedores são os alunos.

Para organizar o trabalho com um gênero textual em sala de aula, sugerimos a seguinte SEQÜÊNCIA DIDÁTICA:

*Apresentação da proposta
*Partir do conhecimento prévio dos alunos
*Contato inicial com o gênero textual em estudo
*Produção do texto inicial
*Ampliação do repertório
*Organização e sistematização do conhecimento: estudo detalhado dos
elementos do gênero, suas situações de produção e circulação
*Produção coletiva
*Produção individual
*Revisão e reescrita


Como sabemos, todos os gêneros de texto tem origem em situações de comunicação específicas e marcas linguísticas próprias.

Quando os professores conhecem a situação de produção e as marcas do gênero que propõem que seus alunos escrevam, podem auxiliá-los a melhorar suas produções.


É a intervenção objetiva do professor consciente das características dos gêneros que ensina a escrever que leva os alunos a aprimorarem continuamente seus textos.


História de um Conceito - Roxane Rojo


TIPOLOGIA TEXTUAL

Tipos textuais: são sequências linguísticas e não textos materializados, a rigor, são modos textuais, não são empíricos. Servem para a produção dos gêneros, estão no interior desses. Os tipos textuais são cinco:   

  • Narração: indica uma ação, tempo, espaço, personagem 
  • Descrição: é estática, caracteriza lugares, pessoas objetos, sem as impressões  
  • Injunção: ordens, perguntas, incita a uma ação.
  • Exposição: define, conceitua.
  • Argumentação: defende idéias, atribui qualidade.
O ensino de redação nas nossas escolas ainda hoje  consiste fundamentalmente na trilogia tipológica: narração, descrição e dissertação – segundo Antunes ( 2004),  tem por base uma concepção voltada essencialmente para duas finalidades: a formação de escritores literários  ou a formação de cientistas . O Currículo do Estado de São Paulo, aponta para o trabalho com textos em sala de aula, através de “gêneros”  e de “tipos de textos”. 

A expressão tipo textual é usada para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) (Douglas Biber, 1988, Jean Paul Bronckart,1999). 


Koch e Fávero (1987) estabelecem três dimensões interdependentes de análise dos tipos textuais, que são: 

- a pragmática, 
- a esquemática global (superestrutura) 
- a linguística (de superfície). 

A existência dessas dimensões se justifica pelo fato de que poderia tornar a tipologia explicativa, bem como permitiria articular as noções de “texto” e “discurso”. Essa correlação entre “texto” e “discurso” é considerada fundamental pelas autoras porque a produção de textos envolve tanto o conhecimento dos aspectos internos quanto o conhecimento dos aspectos externos.
  
Para Travaglia (2002) dificilmente são encontrados tipos puros, ele  fala em conjugação tipológica.  Por exemplo, num texto como a bula de remédio,  que para Koch e Fávero (1987) é um texto injuntivo, tem-se a presença de várias tipologias, como a descrição, a injunção e a predição.  As autoras apresentam seis tipos textuais, a saber: tipo narrativo, tipo descritivo, tipo expositivo ou explicativo, tipo argumentativo strictu sensu, tipo injuntivo ou diretivo, tipo preditivo, tipo conversacional e o tipo retórico (poético). 

O resultado da pesquisa de Silva (1995), que constatou a existência de uma pertinência entre os critérios selecionados pelos alunos no reconhecimento de seus próprios textos quanto ao tipo textual e as dimensões apresentadas pela tipologia de Kock e Fávero (1987), nos permite afirmar que, se abordados como um conhecimento sistemático, os “tipos textuais” podem ampliar as competências e habilidades discursivas, textuais e linguísticas dos estudantes. 


Cada uma dessas tipologias são habilidades exigidas por este ou aquele gênero. Acredito que devamos adotar "práticas que possibilitem ao aluno aprender linguagem a partir da diversidade de textos que circulam socialmente " (PCN, 2000,  p.30), os gêneros que circulam nas variadas  esferas, e suas condições de produção, ensinando-os a interagir e a produzir esses textos. Em um artigo de opinião prevalece a tipologia dissertativa, pois a intenção é sustentar uma opinião, entretanto dentro do texto pode haver fragmentos de tipologia narrativa, descritiva e outros.


Para os autores Douglas Biber (1988)e Jean Paul Bronckart (1999), a expressão gênero textual é usada como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição características. Mas, infelizmente ainda não é o que acontece em muita sala de aula. 

Acredito que devamos desenvolver, dentro de uma sequência didática para o  trabalho com  um gênero, nas oficinas para o trabalho linguístico, as tipologias textuais, "as características, especificidades e determinações" dessas tipologias, dependendo sempre da finalidade do estudo que desenvolvo; de onde quero chegar com o aluno. É propor o trabalho com um gênero, e ao proporcionar um repertório desse gênero, explorar nos textos a materialidade linguística, e assim a observação das tipologias textuais que são acolhidas por esse gênero e como elas expressam as ideias expostas. 


Portanto, o ensino da língua materna deve privilegiar o texto socialmente inscrito, porque "um texto produzido é sempre produzido a partir de determinado lugar,marcado por suas condições de produção. Não há como separar o sujeito, a história e o mundo das práticas de linguagem. Compreender um texto é buscar as marcas do enunciador projetadas nesse texto, é reconhecer a maneira singular de como se constrói uma representação a respeito do mundo e da história, é relacionar o texto a outros textos que traduzem outras vozes, outros lugares." (PCNLP.1998. p.40) , assim como " o PNEM LP , p 21, fala sobre a flexibilidade dos gêneros e sobre o que nos contam a respeito da natureza social da língua.; "toda análise gramatical, estilística, textual, deve considerar a dimensão dialógica da linguagem como ponto de partida. (p. 21)". 


Todavia é necessária a observação da estrutura dos textos, e para isso é precisamos que o professor se apoie em uma teoria linguística, porque afirmações como “os gêneros do conto e da fábula são gêneros narrativos, se levarmos em conta o tipo sequencial narrativo como matriz; podem ser considerados argumentativos, se focalizarmos o encaixamento argumentativo na máxima de moralidade” (ADAM, 2008, p. 275), nos levam a refletir ora é formal, ora funcional.  




NARRAÇÃO 


Estrutura da narrativa

Narrar é contar, relatar fatos, histórias. Neste ato, involuntariamente, respondemos às perguntas: o quê, onde, quem, como, quando, porquê. Nas histórias há apresençadas personagens que praticam ou sofrem ações, ocorrida sem um tempo e espaço físico. A ação é obrigatória, não existe narração sem ação. Poderá haver mistura de realidade e ficção ou a predominância de uma sobre a outra.

PENTEADA
Personagem - antagonista/protagonista
Espaço: local de desenvolvimento da trama.
Narrador - Foco narrativo: posição do narrador diante da historia.
            1ª pessoa: personagem. Realizadores da ação.
    3ª pessoa: observador ou onisciente.
Tempo:linear (ordem cronológica) ou não linear
Enredo: desenvolvimento da trama: começo, meio e fim.
Ambiente
Discurso: modo de fala dos personagens.
Discurso direto: quando a personagem fala sem a interferência do narrador.
Discurso indireto: quando a personagem fala pela boca do narrador.
Discurso indireto livre: quando na forma indireta o narrador reproduz diretamente a fala do personagem.
 Aspectos psicológicos; O esquema das intrigas
  •              Situação Inicial
  •              Conflito Inicial
  •              Desdobramento do Conflito 
  •              Clímax
  •              Desfecho 



DESCRIÇÃO
Descrever é enumerar, sequenciar, listar características de seres como objetivo de formar uma imagem mental. As características podem ser físicas e/ou psicológicas. Pode haver mistura dessas características no mesmo texto. Pode haver ou não ação na descrição.A descrição pode, ainda, se ater ao real e/ou fictício (ou misturá-los).

Observação: A tipologia que mais me envolve é a descritiva. Todo vocabulário traz em si mesmo uma carga descritiva;  encontramos aspectos descritivos em todos os tipos de textos, em todos os gêneros. Quando o trabalho é com  gêneros de narrar, além da estrutura da tipologia narrativa, a tipologia descritiva encorpa o texto. Enquanto a narração faz progredir uma história, a descrição consiste justamente em interrompê-la, detendo-se em um personagem, um objeto, um lugar, etc. 
Para desenvolver esta competência é necessário dar repertório ao aluno, levá-lo a observar a intervenção que o descritor faz no texto, dependendo do efeito que deseja. Ao trabalhar o gênero notícia, com a mesma notícia publicada em suportes diferentes pudemos observar a escolha que o descritor fez em relação ao léxico, dependendo do seu público. E levando os alunos a perceberem que a descrição é também argumentativa, dando a opinião do autor sobre o objeto, lugar ou personagem, levando o leitor a construir um conceito.  


  


DISSERTAÇÃO
Dissertar é debater,discutir um tema,assunto da realidade, normalmente da atualidade,como leitor. É apresentar argumentos, provas,comprovações que visam a convencê-lo. A dissertação pressupõe o conhecimento do assunto a ser debatido e a organização das ideias, dos argumentos. Neste tipo de texto não há a possibilidade de se inventar fatos, argumentos, ideias, dados, gráficos inexistentes. Tudo dever ter por base o real.





INJUNÇÃO
Texto injuntivo (instrucional) é o tipo de texto que leva o leitor a mais que uma simples informação. Instrui o leitor. Não é o texto que argumenta, que narra, que debate, mas leva o leitor a determinada orientação transformadora. O texto injuntivo-instrucional pode ter o poder de transformar o comportamento do leitor.





TESTE AQUI SEUS CONHECIMENTOS

GÊNERO E TIPOLOGIA TEXTUAL

 








A Heterogeneidade Tipológica nos Gêneros Textuais

Os gêneros textuais são inúmeros, apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição própria. Alguns exemplos de gêneros textuais:telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais entre outros.


TIPO TEXTUAIS
GÊNEROS TEXTUAIS
a) São constructos teóricos definidos por propriedades lingüística intrínsecas.
a) São realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas.
b) Constituem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos.
b)Constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas.
c) Abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal.
c)Abrange um conjunto aberto e ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função.
d) Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.
d)Exemplo de gêneros: crônicas jornalísticas, folhetos publicitários,atas de reuniões, relatórios, ensaios, etc.


Devemos ter claro que há uma grande heterogeneidade tipológica nos gêneros textuais. Os gêneros são uma espécie de armadura comunicativa preenchida por seqüências tipológicas de base que podem ser bastante heterogêneas, mas relacionadas entre si. Ao se nomear um texto como "narrativo", "descritivo" ou "argumentativo", não se está nomeando o gênero e sim o predomínio de um tipo de seqüência de base.



Texto adaptado do artigo Gêneros Textuais:definição e funcionalidade de Luiz Antônio Marcushi.



GENEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS
por Lia Seixas in Gêneros Jornalísticos

Roxane Rojo, em artigo apresentado em 2000, mostra como são tênues os limites entre gênero discursivo e gênero textual, como são diluidas as fronteiras entre texto e gênero. A pesquisadora  mapeou os autores:aqueles que trabalhavam com gênero do discurso citavam Bakhtin e seu circulo, e aqueles que falavam em gêneros textuais citavam, principalmente, Bronckart e Adam.

Depois de 10 anos (1995), esta é uma tendência que se repete nos trabalhos brasileiros do Siget, mas também que preocupa claramente os pesquisadores. Um dos trabalhos discute especificamente a diferença entre gênero textual e discursivo, outro ("Editorial: um gênero textual?") questiona através da nomenclatura.

Pela tabela abaixo, fica claro como as linhas entre textual e discursivo são imperceptiveis:

Muito interessante observar também a diversidade de produtos, composições, eventos que podem ser considerados um gênero. Um gênero discursivo pode ser, desde uma "situação de trabalho", "depoimento de orkut", a uma noticia de jornal impresso. A charge, por exemplo, é considerada como textual e como discursivo. Os gêneros jornalisticos são, em geral, considerados gêneros textuais. Dos 21 gêneros textuais, quase a metade (10) é gênero jornalistico de impressos (jornais e revistas).





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GÊNERO TEXTUAL
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Em Rojo (2005), no texto intitulado “Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas” há uma discussão sobre a diferença teórico-metodológica envolvida no uso das terminologias: teoria de gêneros do discurso ou discursivos e teoria dos gêneros de texto ou textuais. Para a autora, ambas as leituras estão ancoradas em diferentes leituras bakhtinianas, mas a distinção está no fato de que a primeira centra seu estudo nas situações de produção dos enunciados ou textos e em seus aspectos sóciohistóricos, e, a segunda, na descrição da materialidade do texto.



A virada pragmática no ensino de língua ainda não é uma realidade


Os PCN’s priorizam as práticas de leitura, práticas de produção textual e práticas de análise linguística; mais que priorizar, os PCN’s conferem a esses três eixos o estatuto de conteúdo a ser ensinado nas aulas de LP.

Ao propor um texto sem que se tenha um querer-dizer e, principalmente, para quem dizer - interlocutores reais - a atividade se desenvolve mecanicamente.

Dentro dessa discussão, Geraldi (1993) estabelece uma dicotomia entre produção textual e o ensino de redação. Segundo o autor, ao trabalhar com redação, os textos são produzidos para a escola; já na perspectiva da produção textual produzem-se textos na escola.

Segundo Geraldi (1993), a problemática na produção textual é produto da carência de uma concepção de linguagem que confira significação à produção escrita do aluno, pois é imprescindível a presença de um interlocutor ativo. No entanto, é comum a inexistência, na produção textual escolar, de um interlocutor a quem o aluno possa dirigir sua voz. Sem perspectiva de um interlocutor e da percepção das condições de produção dos gêneros, as escritas realizadas no âmbito escolar se mostram falsas, sem objetivo, ineficientes na construção da subjetivação do sujeito.

A partir desse panorama teóricometodológico surge a proposta teórica enunciativista que aponta os gêneros do discurso como objeto de ensino nas práticas de linguagem na disciplina de LP. Não mais o texto como estrutura tipológica, mas o gênero na perspectiva sócio-discursiva, despontando como um aporte produtivo e significativo para o trabalho reflexivo das práticas de linguagem.

De acordo com Bakhtin (2003), a diversidade dos gêneros é infinita porque são inesgotáveis as possibilidades das atividades humanas e cada esfera comporta um repertório de gêneros do discurso que vai se diferenciando e se ampliando à medida que a própria esfera se desenvolve e torna-se mais complexa. 




EVOLUÇÃO DO TERMO GÊNERO
DE ARISTÓTELES E PLATÃO A BAKTHIN E TODOROV


Desde a literatura clássica, há uma preocupação em caracterizar os textos em uma tipologia geral, de acordo com suas especificidades e diferenças entre si. 
Aristóteles e Platão apresentam a distinção em três formas genéricas fundamentais: o lírico, o épico e o dramático, cujas características são diferenciadas pelos modos de imitação ou representação da realidade, tendo como princípios o modo de enunciação. 



Platão e Aristóteles propuseram também subdivisões dos gêneros, em função de suas especificações de conteúdo. São estes: o ditirambo, a epopéia, a tragédia e a comédia. 



Seguindo esta evolução, a conceito tradicional de gênero textual compreende a concepção clássica dos gêneros narração, descrição e dissertação ou argumentação foi por muito tempo praticada nas escolas sob o nome de redação. Todavia, reconhecer nas unidades textuais apenas essas três formas de produção, exclui da prática escolar o exercício autêntico da linguagem, uma vez que essa tipologia redacional é vazia de realidade sociointeracional. 



As teorias mais recentes sobre os gêneros textuais estão mostrando que essa classificação não dá conta das diferentes práticas sociais da fala e da escrita, uma vez que não são reconhecidas pelos usuários da língua como objetos de interação. 



Segundo Todorov, os gêneros antigos não desaparecem, apenas são substituídos por novos gêneros, em virtude dos avanços tecnológicos do mundo contemporâneo. Devido à sua dinamicidade e à variabilidade, a concepção de gênero não se limita mais ao estudo da literatura clássica. 



Na atualidade há uma proliferação de textos que mesclam uma variedade de gêneros, permitindo-os um caráter volúvel, sujeitos a mudanças e relações com outros gêneros, resultando, a partir disso, em novos gêneros, os chamados híbridos. 


Há também os gêneros intercalados, como as cartas, os manuscritos, as citações, que apresentam uma pluralidade de estilos e características de diversos gêneros. 

Embora diferentes, cada gênero apresenta uma estrutura básica específica que o caracteriza de acordo com a produção, recepção, o texto e o contexto em que se encontram. São três os elementos principais em que devemos nos fundamentar para verificar o gênero a que pertence determinado enunciado. 






DEFINIÇÃO DE GÊNERO

Para Bakthin gênero são tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados nas diferentes esferas sociais de utilização da língua.
Gênero é uma classe de eventos comunicativos, os quais são delimitados por objetivos comunicativos (tema, estilo e estrutura esquemática). 

Para Marcuschi (1996: p.4), gêneros são "modos de organização da informação que representariam as potencialidades da língua, as rotinas retóricas ou formas convencionais que o falante tem à sua disposição na língua quando quer organizar o discurso." 

O mesmo autor (2002:p.19) concebe os gêneros textuais "como fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social" e acrescenta: "os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia". No entanto, ele adverte que "os gêneros não são instrumentos estanques e enrigecedores da ação criativa", muito pelo contrário, eles se caracterizam "como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos". 

Marcuschi, ao considerar os gêneros textuais, aborda a imprescindibilidade de tratá-los como fenômenos históricos, relacionados com a vida cultural e social.o autor ressalta que os gêneros surgem, proliferam-se e modificam-se para atender as necessidades socioculturais e às inovações tecnológicas. 

O autor pontua que: "[Os gêneros textuais] Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita." (2002: 20) 

Marcuschi faz a distinção entre gênero, forma concretamente realizada, encontrada nos diversos textos empíricos; e tipo textual, constructo teórico, que abrange categorias determinadas. 


Conhecer determinado gênero significa se capaz de prever regras de conduta, seleção vocabular e estrutura de composição utilizadas. 


São três os elementos principais que caracterizam o gênero: 

  • conteúdo temático (assunto, a mensagem transmitida); 
  • o plano composicional (estrutura formal dos textos pertencentes ao gênero); 
  • o estilo (leva em conta as questões individuais de seleção e opção: vocabulário, estruturas frasais, preferências gramaticais). 

Esta abordagem teórica, que conduz a uma nova prática de tratamento da linguagem na escola, vem em substituição à classificação tradicional, à trilogia clássica que compreende narração, descrição e dissertação. 


“Os gêneros são, em ultima análise, o reflexo de estruturas sociais recorrentes e típicas de cada cultura. Por isso, em princípio, a variação cultural deve trazer conseqüências significativas para a variação de gêneros, mas este é um aspecto que somente o estudo intercultural dos gêneros poderá decidir.” (MARCUSCHI, 2002)

CONCEITOS      

- Suporte:  é onde aparece o gênero. Exemplo: papel, computador, outdoor, televisão, rádio.

- Configuração:  é como aparece o gênero. Poem ser:   escritos, orais,  ,  simples ou complexos e  híbrido (composto por vários recursos de linguagem).

- Gêneros: são realizações linguísticas concretas orais ou escritas, surgem da nossa necessidade, são empíricos.   O que determina o gênero pode ser a forma, a função, o suporte ou o ambiente em que os textos aparecem. 

Integram vários tipos de signos verbais, sons, imagens e formas em movimento ou estáticas. 

Os grandes suportes tecnológicos da comunicação (rádio, televisão, jornal, internet, revista), propicionam gêneros novos. 

Alguns exemplos de gêneros: certidão de nascimento, resenha, telefonema, notícia jornalística, crônica, novela, horóscopo, receita, ofício, e-mail, bilhete, aula, monografia, parlenda, rótulos, música...

Alguns aspectos que devem ser observados na produção e uso do gênero textual: 
  •     Natureza da informação        
  •     Nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta)       
  •     Situação em que o gênero se apresenta (pública, privada, solene)        
  •     Relação entre os participantes         
  •     Objetivos das atividades desenvolvidas  
O gênero privilegia a natureza funcional e interativa da língua enquanto o tipo textual se preocupa com o aspecto formal e estrutural.

É importante a prática com gêneros para o processo de letramento do aluno.



CLASSIFICAÇÃO DOS GÊNEROS
Devido à extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso, Bakthin optou por dividir os gêneros em dois tipos: Gênero Primário (simples) e Gênero Secundário (complexo). 

Os chamados Gêneros Primários são aqueles que provêm de situações de comunicação verbal espontânea, da vida cotidiana de interação: linguagem oral, diálogos com a família, reuniões de amigos, etc. Podendo, muitas vezes, transformar-se e assumir estatuto de gênero secundário, tendo em vista a dinamicidade e plasticidade inerente aos gêneros. 

Já os gêneros secundários, segundo Bakhtin, “surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente desenvolvido e organizado (predominantemente escrito) [...]” (Bakhtin, 2003, p. 263) e, por sua vez, demandam uma complexidade maior, sendo exemplos, o romance, os gêneros científicos, jornalísticos, entre outros.  Os Gêneros Secundários envolvem uma forma mais elaborada de linguagem, normalmente a escrita, para construir uma ação verbal em situações de comunicação mais complexas e relativametne mais evoluídas, abrangendo assuntos artísticos, culturais, políticos, etc. Esses gêneros modificam os Primários, que passam a ter características mais complexas e elaboradas. Bakthin traz como exemplo uma carta ou um diálogo cotidiano da realidade comunicativa, que, quando inseridos em um romance, desvinculam-se da realidade comunicativa imediata, só conservando seu significados no plano de conteúdo do romance. Ou seja, a matéria dos Gêneros Primários e Secundário é a mesma, o que os diferencia é o grau de complexidade e elaboração em que se apresentam. 
Na contemporaneidade, tem-se observado o surgimento e o desaparecimento de diversos gêneros. Nessa mesma perspectiva, Geraldi (2006) propõe que a emergência de novos gêneros está associada às atividades sociais, e que, quanto mais complexa é uma sociedade, mais complexos, e em maior número, são os gêneros nela construídos.

Seguindo a linha bakthiniana dos Gêneros Primários e Secundários, surge, através do advento da internet, um novo cenário de enunciação, virtual e mais complexo - o ciber ou hiper espaço -, os chamados Gêneros Terciários, em que leitor e escritor se encontram diante de novos processos de produção e compreensão textuais, construídos em um novo suporte eletrônico - o computador-, de novas formas de linguagem, de um novo código, de uma nova comunicação hipertextual, de um novo estilo de ler e escrever ( e de "conversar", usando o teclado). 

A acelerada evolução da tecnologia de comunicação vem propiciando o surgimento de novos gêneros e a renovação de outros, para se adaptarem ao meio eletrônico. Consequentemente, novas estratégias de seleção e distribuição do conteúdo são empregadas e novos recursos linguísticos são criados para agilizar a transmissão de informações no ambiente virtual. E é através da emergência de novos gêneros discursivos e textuais (terciários) que surgem os gêneros virtuais. 










GÊNEROS VIRTUAIS
Gêneros virtuais é o nome dado às novas modalidades de gêneros textuais, surgidas com a internet, dentro do hipertexto (texto que vem acompanhado de vários links possibilitando uma leitura não linear do mesmo, já que o leitor se encontra livre para modificar o caminho de sua leitura acessando quando acessa tais links), permitindo a comunicação e a interação entre duas ou mais pessoas, mediadas pelo computador. A internet veio inaugurar uma forma significativa de comunicação e de uso da linguagem. Os principais gêneros virtuais são: os e-mails, os chats ou salas de bate-papo, as listas de discussão, os weblogs (blogs), etc. 

Acrescenta-se, ainda, que a internet possibilitou a crialção de um novo espaço para a escrita, permitindo também a ampliação da concepção de texto, que, no espaço virtual, carrega marcas da oralidade e representa um hibridismo entre a modalidade oral e escrita. Assim, o texto passa a ser dinâmico e interativo, sendo escrito por várias mãos. 

Neste sentido, é função do professor fornecer ao aluno o conhecimento e a elaboração de diferentes gêneros discursivos/textuais, permitindo-lhe empenhar-se na realização consciente de um trabalho linguístico que realmente tenha sentido para si. Isso só é conseguido, à medida que a proposição textual seja bem clara e definida. É necessário que o aprendiz possa sentir que realmente está produzindo para um leitor (que não deve ser apenas o professor), eliminando a exclusividade das situações artificiais de produção textual, tão presentes no cotidiano da escola. 





GÊNEROS EMERGENTES

Luis Antônio Marcuschi

Marcuschi aprofunda essas ideias ao declarar que a escrita é a base fundamental da internet e dos gêneros ligados a ela, tornando-se essencial e extremamente necessária para que exista. O autor ainda declara ser precipitado afirmar que esteja surgindo uma "fala por escrito", pois o que se pode notar na verdade é uma mistura diferente a tudo que já foi visto, inclusive com utilização de representações semióticas. Uma forma de comunicação totalmente diferente ao que já existiu, provavelmente, se tratando de um novo gênero textual, podendo, por esse motivo, tornar-se alvo e desencadear vários estudos e análises.







Aprender a linguagem que se escreve - parte 3









VÍDEO - CENPEC - ESCREVENDO O FUTURO






O TRABALHO ATRAVÉS DE GÊNEROS TEXTUAIS





As condições de produção do texto escolar escrito, deve basear-se nos cinco fatores pragmáticos de construção da textualidade apontados por Costa Val (1994): intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade, cujo estudo encontra aporte teórico em Beaugrande e Dressler (1983).

1.Intencionalidade: diz respeito às intenções do locutor, que podem ser informar, impressionar, convencer, pedir, ofender, etc.
2. Aceitabilidade: refere-se à expectativa do recebedor (leitor) de que o conjunto de ocorrências seja um todo coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.
3.Situacionalidade: diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à situação sociocomunicativa.
4. Informatividade: diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano conceitual e no formal. Outro requisito para que um texto tenha bom índice de informatividade é a suficiência de dados para que o texto seja compreendido com o sentido que o produtor pretende.
5. Intertextualidade: relaciona-se aos aspectos que fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s).



Proposta de Atividade com diferentes gêneros
Carta, Telégrafo, Internet, Telefone






PARADOXO DOS GÊNEROS

De um lado, os usuários de uma língua têm consciência da existência da diversidade de gêneros em sua sociedade e, em maior ou menor grau, são capazes de reconhecer vários deles e de lhes dar um nome, de modo mais ou menos comum (como, por exemplo, romance, novela, notícia etc.). 
Há um conhecimento intuitivo e não teórico.

De outro lado, os gêneros nunca se prestam a definições e classificações sistemáticas e consensuais.    

►Mesmo os nomes dados aos gêneros existentes às vezes não nos ajudam em muita coisa.
•Exemplo: artigo de opinião e comentário jornalístico (Há dois gêneros? Um gênero com dois nomes?);
•Há textos muito semelhantes rotulados com dois ou mais nomes. EX.: resenha, resenha crítica, resumo crítico, nota bibliográfica; folheto, panfleto, folder; seminário, apresentação oral, etc.




A GRAMÁTICA E OS GÊNEROS

A gramática que se ensina está articulada ao gênero que se escreve.
Por exemplo:
Saber quais são os conceitos gramaticais de que eu preciso para escrever um texto de opinião.
Há muito que se ensinar:
* Como se toma posição em um texto?
* Que expressões usar para mostrar opiniões contrárias?
* E para desqualificá-las?
Se o aluno aprende uma gramática descolada do contexto, ele até reconhece que a oração é coordenada adversativa, mas não sabe quando utilizá-la, que palavras são mais adequadas para dar coesão e garantir o sentido do texto.

Por exemplo:
Saber quais são os conceitos gramaticais de que eu preciso para escrever um texto do gênero Conto (de aventura).
Há muito que se ensinar:
* Como se posiciona o narrador (1ª pessoa, 3ª pessoa)
* A coesão e coerência na seqüência dos fatos
* A introdução do elemento complicador
* A elaboração do clímax
* A resolução do conflito
Se o aluno aprende uma gramática descolada do contexto, ele até reconhece ......, mas não sabe quando utilizá-la, que palavras são mais adequadas para dar coesão e garantir o sentido do texto. 

“ O que um dia
eu vou saber
não sabendo
eu já sabia.”
                                                       
                       Guimarães Rosa






O Contexto de Produção

A partir da noção de gênero ligada às interações sociais, o trabalho didático com os textos em sala de aula precisa ser mediado a partir de uma exploração prévia dos gêneros a serem trabalhados, evidenciando aos estudantes as interações que se estabelecem por meio deles. 


Antes de propor aos alunos a escrita de determinado gênero, cabe ao professor explorar com o grupo de alunos alguns aspectos relativos ao funcionamento do gênero, por exemplo: porque se produz determinado gênero, ou seja, qual a finalidade discursiva; quem são os interlocutores na interação discursiva; em quais suportes os gêneros circulam (Quem escreve esse gênero discursivo? Com que finalidade? Onde? Quando? Como? Com base em que informações? Quem lê esse gênero? Como o classificado surgiu? Onde circula?).


ESFERAS DE ATIVIDADES E GÊNEROS DO DISCURSO


Figura 1: Congresso Nacional
Esfera de atividade representada: Esfera política - Poder Legislativo
Atores envolvidos:
Deputados estaduais, senadores e seus respectivos partidos políticos, assessores parlamentares, funcionários administrativos do órgão, lobistas, eleitores (a quem esses políticos deveriam representar) etc.
Interesses em jogo: Defesa de interesses nacionais, partidários, pessoais, da base de eleitores, de instituições/empresas que apoiam as campanhas etc.
Exemplos de atividades realizadas:
Criação e aprovação - por votação - de leis, aprovação de ações do poder executivo, discursos em plenárias, negociações políticas etc.
Gêneros em circulação: Lei, projeto lei, parecer, relatórios de diferentes naturezas, discurso


Figura 2: Laboratório de química

Esfera de atividade representada: Científica
Atores envolvidos:
Pesquisadores, estagiários, assistentes, pessoal da área administrativa, comunidade científica, empresas particulares e universidades, órgãos financiadores
Interesses em jogo:
Ampliar/produzir conhecimentos da área, solucionar problemas específicos que envolvem a esfera, obter reconhecimento da comunidade científica, conseguir ampliar verbas para as pesquisas em curso (o que implica em provar que ela é mais pertinente que
uma outra que se privará de financiamento) etc..
Exemplos de atividades realizadas:
Experimentos, anotação de dados e resultados, leitura de textos pertinentes à área, apresentação de trabalhos em congressos, publicação de textos em revistas científicas, elaboração de projetos e relatórios etc.
Gêneros em circulação: Projeto de pesquisa, relatório de pesquisa, artigo científico,
comunicação em congressos, dissertações, teses etc.



Figura 3: Sala de aula

Esfera de atividade representada: Educacional/Escolar
Atores envolvidos:
Alunos, professores, diretores de escola, coordenadores, pais de alunos, pessoal da área administrativa. Em escolas particulares, há o dono da escola. Em escolas públicas, há a Secretaria da Educação, as Diretorias de Ensino e outros órgãos ligados ao governo.
Interesses em jogo:
Promover as aprendizagens dos alunos (há diferentes formas de conceber o processo de ensino-aprendizagem, algumas delas são conflitantes), obter grau de formação educacional, preparar jovens para o mercado de trabalho, preparar para o vestibular, propiciar a participação cidadã do indivíduo (essas últimos 3 interesses representam diferentes finalidades, conflitantes, que podem ser definidas por uma escola) etc..
Exemplos de atividades realizadas:
Aulas, reuniões de professores, reuniões de pais, seminários, jogos, leitura e produção de textos, realização de exercícios.
Gêneros em circulação: Seminário, prova, aula expositiva, debate, relato histórico, artigo de divulgação científica, enunciado de problemas (matemáticos, físicos e químicos), gêneros literários, gêneros jornalísticos etc.,




EXERCÍCIO:
Completar de acordo com os exemplos acima.

Figura 4: Redação de Jornal  - Diário de Notícia

Esfera de atividade representada:
Atores envolvidos:
Interesses em jogo:
  • Os artigos de opinião, editorias, charges etc. publicados nos jornais também têm o objetivo de informar?
  • Quanto vale um furo de reportagem?
  • Por que possuem esse valor?
  • A maioria dos jornais pertencem a empresas jornalísticas. Será mesmo que como empresas elas visam em última instância a informação a qualquer preço?
Exemplos de atividades realizadas:
Gêneros em circulação:



Enfim, a partir de uma discussão sobre as condições de produção do gênero e dos aspectos discursivos dos mesmos, o aluno poderá apreender a dinâmica de determinada interação discursiva (ou seja, do gênero) e, desse modo, talvez seja possível uma mudança significativa nas práticas de leitura e de produção textual escrita. 






A GRAMÁTICA E OS GÊNEROS

A gramática que se ensina está articulada ao gênero que se escreve.
Por exemplo:
Saber quais são os conceitos gramaticais de que eu preciso para escrever um texto de opinião.
Há muito que se ensinar:
* Como se toma posição em um texto?
* Que expressões usar para mostrar opiniões contrárias?
* E para desqualificá-las?
Se o aluno aprende uma gramática descolada do contexto, ele até reconhece que a oração é coordenada adversativa, mas não sabe quando utilizá-la, que palavras são mais adequadas para dar coesão e garantir o sentido do texto.

Por exemplo:
Saber quais são os conceitos gramaticais de que eu preciso para escrever um texto do gênero Conto (de aventura).
Há muito que se ensinar:
* Como se posiciona o narrador (1ª pessoa, 3ª pessoa)
* A coesão e coerência na seqüência dos fatos
* A introdução do elemento complicador
* A elaboração do clímax
* A resolução do conflito
Se o aluno aprende uma gramática descolada do contexto, ele até reconhece ......, mas não sabe quando utilizá-la, que palavras são mais adequadas para dar coesão e garantir o sentido do texto.


“ O que um dia
eu vou saber
não sabendo
eu já sabia.”

Guimarães Rosa






Gêneros do discurso e produção de textos
Os gêneros do discurso são um elemento fundamental no processo de produção de textos, porque são os responsáveis pelas formas que estes assumem. Qualquer manifestação verbal organiza-se, inevitavelmente, em algum gênero do discurso, seja uma conversa de bar, uma tese de doutoramento, seja linguagem oral ou escrita.

Os gêneros são, portanto, formas de enunciados produzidas historicamente, que se encontram disponíveis na cultura, como notícia, reportagem, conto (literário, popular, maravilhoso, de fadas, de aventuras...), romance, anúncio, receita médica, receita culinária, tese, monografia, fábula, crônica, cordel, poema, repente, relatório, seminário, palestra, conferência, verbete, parlenda, adivinha, cantiga, anúncio, panfleto, sermão, entre outros.


Os gêneros se caracterizam pelos temas que podem veicular, por sua composição e marcas lingüísticas específicas. Assim, não é qualquer gênero que serve para se dizer qualquer coisa, em qualquer situação comunicativa.

Se alguém pretender discutir uma questão polêmica, como a descriminalização das drogas ou a pena de morte, precisará organizar o seu discurso em um gênero como artigo de opinião, por exemplo. É o gênero que pressupõe a argumentação a favor ou contra questões controversas, mediante a apresentação de argumentos que possam sustentar a posição que se defende e refutar aquelas que forem contrárias àquilo que se defende.

Por outro lado, se a finalidade for relatar um fato ocorrido no dia anterior, certamente a notícia deverá ser o gênero escolhido. Se o que se pretende é orientar alguém na realização de determinada tarefa, pode-se escrever um manual ou relacionar instruções, por exemplo. Se a intenção for apresentar algum ensinamento por meio de situações exemplares, colocando animais como protagonistas para representar determinadas características humanas, então a fábula é o gênero mais apropriado.

Portanto, saber selecionar o gênero para organizar um discurso implica conhecer suas características, para avaliar a sua adequação aos objetivos a que se propõe e ao lugar de circulação, por exemplo. Quanto mais se sabe sobre esse gênero, maiores são as possibilidades do discurso ser eficaz.

Dessa forma, a proficiência do aluno em Língua Portuguesa depende também do conhecimento que ele tem sobre os gêneros e de sua adequação às diferentes situações comunicativas. Suas características, portanto, devem ser objeto de ensino e tema das atividades que se organizar.

Texto original: Kátia Lomba Bräkling




TRATAMENTO DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA
O ensino de produção de texto pela perspectiva dos gêneros apresenta resultado satisfatório quando se propicia ao aluno, desde cedo, contato com uma diversidade textual, ou seja, com os diferentes gêneros textuais que circulam socialmente, inclusive aqueles que expressam opinião. Além disso, compreende-se que a aprendizagem se dá em espiral, isto é, os gêneros devem ser freqüentemente retomados, aprofundados e ampliados, , de acordo com a série, com grau de maturidade dos alunos, com suas habilidades lingüísticas e com a área temática de seus interesses.

Através do ensino-aprendizagem de produção de texto pela perspectiva dos gêneros, o professor passa a ser um especialista nas diferentes modalidades textuais, orais e escritas, de uso social.

Assim, a sala de aula transforma-se numa oficina de textos de ação social, viabilizada e concretizada pela realização de projetos e adoção de algumas estratégias, como enviar uma carta para um aluno de outra classe, fazer um cartão e ofertar a alguém, enviar uma carta de solicitação a um secretário da prefeitura, realizar uma entrevista, etc.


Na avaliação, o bom texto é aquele que é adequado à situação comunicacional para o qual foi produzido, ou seja, se a escolha do do gênero, se a estrutura, o conteúdo, o estilo e o nível de língua estão adequados ao interlocutor e podem cumprir a finalidade do texto.


Tendo em vista que todos os textos se manifestam sempre num ou noutro gênero textual, um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais torna-se importante tanto para a produção quanto para a compreensão. É sob esta perspectiva que os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem, quando mencionam que o trabalho com texto deve ser feito na base dos gêneros, sejam eles orais ou escritos. 


Além disso, considerando as inovações tecnológicas e textuais já mencionadas, é preciso que o professor esteja atento ao que acontece na sociedade e a sua volta, às suas experiências e às dos alunos, para partilhar e aprender com eles sobre os gêneros que estão sendo utilizados nos mais variados contextos, sobre os propósitos comunicativos que os movem e os efeitos pretendidos em cada situação particular, levando sempre em conta o destinatário, ou seja, a quem serão voltadas as atenções do emissor para alcançar os propósitos comunicativos de cada ação que se concretiza na linguagem verbal. 



Cabe ao professor propor atividades que promovam a ativação do conhecimento de gêneros estabelecidos socialmente e na comunidade discursiva do aluno, por meio de exercícios de análise e reconhecimento das propriedades comunicativas e formais de cada um, realçando seus efeitos comunicativos, em função dos interlocutores nas situações concretas de comunicação. Para tanto, o professor precisa ter uma base teórica atualizada para orientar a construção de sua prática pedagógica, um conhecimento de teorias que lhes dê os subsídios necessários para promover, sempre que possível, experiências autênticas de uso da linguagem. As atividades de leitura e produção devem oportunizar aos alunos um exercício de reconhecimento e análise de gêneros textuais que circulam na sociedade, muitos dos quais fazem parte do cotidiano deles. 



A escola tem a responsabilidade de instrumentalizar os seus alunos para usos autênticos da linguagem. Ensinar o domínio da Língua Portuguesa significa ensinar os alunos a escolherem o gênero adequado a cada situação comunicativa e a usá-lo, com propriedade e segurança, em suas experiências de vida fora da escola. 






Referência:
ADAM, J-M . A lingüística textual: uma introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2008.
ANTUNES, I. (2004). Aula de português: encontros e interação. São Paulo: Parábola.
BRASIL, SEF. (1998). Parâmetros curriculares nacionais: Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF.
BAKHTIN, M. M. (2003). Estética da criação verbal. Tradução do russo por Paulo Bezerra. 4a ed. São Paulo: Martins Fontes.
FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. (1987). “Contribuição a uma tipologia textual”. In Letras & Letras. Vol. 03, nº 01. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia. pp. 3-10.
GERALDI, J. W. (1993). Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes.
Material do Curso Práticas de leitura e Escrita na Contemporaneidade - SEE, 2006
MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. (Orgs.) 'Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital'  Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2004.P. 13
ROJO, R. (2001). A teoria dos gêneros em Bakhtin: Construindo uma perspectiva enunciativa para o ensino de compreensão e produção de textos na escola. In: B. Brait (Org.). Estudos enunciativos no Brasil: Histórias e perspectivas. São Paulo: Fapesp. 
SILVA, J. Q. Gênero discursivo e tipo textual. Scripta, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 87-106, 1º sem. 1999. 
SOUSA, Socorro Cláudia Tavares de. AS ABORDAGENS TIPOLÓGICAS DOS TEXTOS. Revista Linguagem em (Dis)curso, volume 12, número 1, jan./abr. IN 2012.http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/1201/14.htm 



É um dever da escola ensinar o aluno a ler e escrever BEM. Ensinar o que eles ainda não sabem,  para instrumentalizá-los nas práticas de leitura e escrita,  para que dominem a língua padrão, e para que respeitem e saibam fazer uso do maior número possível de variedades linguísticas . A escola deve ampliar o universo de situações de leitura e do  uso da escrita porque dependendo dos objetivos  e da situação de interlocução produzimos textos diferentes e inclusive em relação a linguagem.

(...) nas inúmeras situações sociais de exercício da cidadania que se colocam fora dos muros da escola,  a busca de serviços , as tarefas profissionais, os encontros institucionais, a defesa de seus direitos e opiniões, os alunos serão avaliados (em ouros termos aceitos ou discriminados) à medida que forem capazes de responder a diferentes exigências de fala e de adequação às características próprias de diferentes gêneros (....)A aprendizagem de procedimentos apropriados de fala e escuta, em contextos públicos, dificilmente ocorrerá se a escola não tomar para si a tarefa de promovê-la.
(PCNs 3º e 4º Ciclos EF, p.25)

A compreensão e a produção de um texto é complexa e exige que o aluno já tenha desenvolvido habilidades para com este ou aquele gênero e que saiba fazer as escolhas de recursos de linguagem necessárias dependendo da prática social em que se inserem: ativar o seu conhecimento prévio (sobre o gênero, o tema)  inferir uma informação implícita no texto; inferir, a partir de elementos presentes no texto, o posicionamento do autor; reconhecer o efeito de sentido decorrente de determinadas escolhas lexicais e sintáticas; estabelecer relações entre as informações presentes no texto; identificar a finalidade do texto;estabelecer relação de causa e conseqüência; estabelecer relações entre este texto e outros, explorando a intertextualidade; estabelecer relações entre as informações contidas no texto e o contexto histórico geral, tanto no passado quanto no presente; posicionar-se sobre fatos narrados, a partir de elementos presentes no texto...O desafio da escola é formar leitores e escritores conscientes da importância dos textos em determinada situação social e que usem estas habilidades como instrumento de reflexão do próprio pensamento.

Resta - nos agora apropriar - nos da instrumentalização deste megainstumento, os gêneros,  suporte para atividades de comunicação nas múltiplas linguagens,  como objeto de ensino-aprendizagem (gênero escolar, uma variação do gênero de referência): abordagem dos conteúdos, elementos  e configurações das estruturas dos gêneros. Assim como  tomar decisões didáticas (Qual o gênero a ser abordado? A quem se dirige a produção? Que forma assumirá a produção? Quem participará da produção?) , visando objetivos precisos (ensinar o aluno a  dominar o gênero e a partir disto desenvolver capacidades de ultrapassá-lo) e a elaborar seqüências didáticas e que, segundo Schneuwly e Dolz,  "....criando contextos de produção precisos, efetuar atividades ou exercícios múltiplos e variados: é isso que permitirá aos alunos apropriarem-se das noções, técnicas e dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita, em situações de comunicação diversas."

"....quanto mais precisa a definição das dimensões estáveis de um gênero mais ela facilitará a apropriação este instrumento e possibilitará o desenvolvimento de capacidades de linguagem diversas que a ele estão associadas. "
(Schneuwly e Dolz, 1997)

Percebo que há múltiplos fios a serem tecidos ainda.

                                                                   ...  ¤°.¸¸..´¯`»Katty Rasga

7 comentários:

Grata pela sua participação.
[]s.
Katty Rasga