OUTROS GÊNEROS



INTERROGATÓRIO


Segundo Bezerra (2002), o interrogatório é um ato judicial,  em que se indaga ao acusado sobre os fatos imputados contra ele advindo de uma queixa ou denúncia, dando-lhe ciência ao tempo em que oferece oportunidade de defesa. Logo, o interrogatório possui um caráter híbrido, visto que é considerado tanto meio de prova, bem como ato de defesa (autodefesa). 

Existem os momentos, fixados pelo Código de Processo Penal, para realização do interrogatório, quais sejam: no inquérito policial;  no auto de prisão em flagrante ; logo após o recebimento da denúncia ou queixa e antes da defesa prévia ; no plenário do júri  e no Tribunal, em processos originais ou no curso da apelação (art.616).

O interrogatório traz em seu bojo as seguintes características: é ato público, é ato personalíssimo, possui judicialidade e, finalmente, oralidade.

É ato personalíssimo porque só o acusado pode ser interrogado. Possui judicialidade porque cabe ao juiz e só ele interrogar o acusado. Na oralidade, a palavra do acusado, circundada de sua atitude, pode dar ao juiz um elemento insubstituível por uma declaração escrita, despida dos elementos de valor psicológico que acompanham a declaração falada.

Quanto ao contexto de produção....... este é um gênero oral, e vocês estão fazendo a reprodução da fala original, o que é uma característica de registro deste gênero.

Como no exemplo:

Excerto 1 (ABUSO SEXUAL DE MENOR, 2007, 02:47-52)

47 inspetor -muito bem (mexe em papeis) então a senhora e a dona Marta da Silva não é isso?
48 mãe     - aham.
49 inspetor- esse rapaz que tá na minha frente ai é o André ((menor, possível vítima de abuso sexual)) não e isso?
50 mãe  -   aham.
51 inspetor  - tá deixa eu perguntar pra senhora
                     - tá constando aqui pra gente, tá que a senhora fez o boletim de ocorrência, tá aqui com a gente, não á isso?
                     - da polícia civil, né? dia dezesseis de abril, é isso mesmo, não é isso?
O texto de um interrogatório é mantido assim.
SOBRE A ORALIDADE
Outras situações: sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se afigura mais expressiva e dinâmica. A informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
Tô preocupado. (língua popular)
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
Eu não vi ela hoje.
Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Não assisti o filme nem vou assisti-lo.

Abaixo um gráfico (MARCUSCHI, 2001, p. 41), que mostra a relação da fala com a escrita . Vocês poderão ver que fala e escrita apresentam-se num continuum que abrange vários gêneros textuais. Há uns que se aproximam mais da fala; outros, mais amplos no contexto, estão mais próximos da escrita.


MARCUSCHI (2001) elaborou um modelo para as operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito:

1ª. operação: Eliminação de marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de palavras:
Por exemplo: “eh...eu vou falar sobre a minha família... sobre os meus pais...o que eu acho deles...como eles me tratam...bem...eu tenho uma família...pequena...ela é composta pelo meu pai... pela minha mãe... pelo meu irmão... eu tenho um irmão
pequeno de ... dez anos... eh... o meu irmão não influencia em nada... minha mãe é uma pessoa superlegal...sabe?”
Nesse texto percebem-se as hesitações como: eh..., de...; a marca interacional,
como: sabe?
2ª. operação: Introdução da pontuação.
3ª. operação: Retirada de repetições, reduplicações e redundâncias.
                                                 
MARCUSCHI, “Da fala para escrita” (2001, p.75)

Segundo Ferronato, “as ações feitas para a retextualização podem ser assim sintetizadas:
1. Ponto de partida – texto base para a produção final escrita.
2. Texto transcodificado - simples transcrição, incluindo o aspecto da
compreensão, o qual vai repercutir no texto final.
3. Transcrição – sem pontuação, sem inserções e sem eliminações mas com indicações como: sorriso, movimento do corpo etc.
4. Adaptações implicam perdas como, por exemplo, entonação, qualidade da voz.
5. Texto final: após as operações de retextualização, tem-se a versão final escrita.”


Referência:
FERRONATO, Vera Lúcia de A. S. “A FALA E A ESCRITA EM QUESTÃO: RETEXTUALIZAÇÃO” IN  http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem10pdf/sm10ss02_09.pdf.Último acesso: 20 abril 2012.
MARQUE, Débora. (2008) “A TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO SEQÜENCIAL DA VERDADE NUM INTERROGATÓRIO POLICIAL DA DELEGACIA DE REPRESSÃO
A CRIMES CONTRA A MULHER” in http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo51.pdf . Último acesso: 20 abril 2012.


Curiosidade:



FÓRMULAS FRASAIS
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FRASES DE EFEITO
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Nem sempre é possível estabelecer uma distinção bem clara entre todas essas formas de frases breves, que primam pelos efeitos retóricos. De modo geral, podemos entendê-las da seguinte forma:


Provérbios: sentença de caráter prático e popular (...) expressa em forma sucinta e geralmente rica em imagens.;

Máximas: princípio básico e indiscutível de ciência ou arte; sentença ou doutrina moral.

Anexins: dito sentencioso de extração popular.

Refrão: forma que se repete regularmente num poema ou numa canção.

Adágio: sentenças morais sobre a arte da paciência e a esperança.

Parêmia: breve alegoria verbal, frase de efeito. 

Jargão: sentença corrompida pelo uso excessivo ou idioleto profissional.

Clichê: frases vulgarizadas, consagradas pelo uso cativo e regular.

Divisa: sentença que se incorpora à marca, simbolizando uma idéia ou sentimento.

Lema: sentença que contém preceito a ser seguido.

Palavra de Ordem: sentença autoritária que manda fazer alguma coisa.

Norma: síntese de um princípio, de um preceito, de uma regra, de uma lei.


Todos estão presentes em nosso dia-a-dia. Utilizamo-nos deles e somos úteis a eles (repetindo-os), como bem demonstra a moderna propaganda, principalmente através da comunicação maciça de slogans comerciais e políticos.


O que fará ser uma e não outra serão outras particularidades senão a intenção da comunicação e o modo de veiculação.



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 MÁXIMAS
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Por máxima entendemos aqueles princípios básicos de alguma ciência, arte ou de alguma doutrina. Trata-se de um axioma ou de uma sentença de caráter moral. O nome vem diretamente do latim "máxima"(sentencia), a proposição maior ou primeira de um argumento, à qual se chega ou da qual se parte para a conclusão de outras verdades.

J. J. Rousseau diz que a máxima é "um axioma geralmente admitido que, cedo ou tarde, se descobre a verdade" (Garcia, 1982:308).O fato de ser "admitido", antes de ser comprovado nos leva a supor que o dito sentencioso contenha, em si mesmo, algum ponto de contato como conhecimento ou a experiência das pessoas, algum elo capaz de canalizar, para o todo da afirmação, a "sensação" de verdade, antes mesmo de ela ser comprovada. Tal competência persuasiva pode ser explicada pela força da autoridade, quando o autor da sentença é personalidade de notório saber na área do conhecimento sobre o qual afirma alguma coisa.

Entretanto, muitas máximas conseguem persuadir por si mesmas,independentemente de se conhecer seu autor.

Vejamos algumas delas:

"Tudo o que existe e tem limites no espaço, os tem igualmente no tempo e duração." (M. de Maricá, Máximas, 3333)

"O Progresso é a realização das utopias." (Oscar Wilde)

"Um idealista é alguém que ajuda o outro a ter lucro." (Henry Ford)

"É mais difícil ganhar o primeiro tostão que o primeiro milhão."(Michael Kalecki)

"Quem decide, pode errar. Quem não decide, já errou." (Herbert Von Karajan)


A formulação dessas idéias em frases curtas consegue causar impacto por aproximar, sem argumentação explícita, certos paradoxos –alguns facilmente conciliáveis, outros nem tanto – já cristalizados na cultura. Normalmente, ocorre a superposição de uma premissa insinuada a uma conclusão constatável na experiência, mas impossível de ser testada cientificamente, com métodos objetivos.Também a subjetividade radical não daria conta de explicar essa competência persuasiva, porque as máximas conseguem convencer um grande número de pessoas, de características culturas as mais diversas.



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PROVÉRBIOS E SLOGANS

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A grande semelhança dos provérbios com os modernos slogans publicitários levou Olivier Reboul a enumerar dez traços em comum entre ambos:


1) Provérbios e slogans são fórmulas incitativas, que compreendem sua própria justificação, podendo, portanto, ser verdadeiros ou falsos;

2) um e outro são essencialmente populares, como indica sua forma, que transgride espontaneamente a gramática da língua escrita (...);

3) o sentido do provérbio é inseparável de sua forma e seus procedimentos retóricos são os mesmos dos slogans: ritmos,assonâncias, rimas, repetições, metáforas, etc. Encontram-se igualmente figuras de pensamento, como o quiasmo ou a antítese  (...)  apóiam - se numa rima interna e numa metáfora sugestiva (...) A repetibilidade é comum ao provérbio e ao slogan; é conseguida pelos mesmos procedimentos;

4) também o provérbio é intraduzível; não se pode vertê-lo por outro provérbio;

5) o destinador é anônimo nos dois casos (...);

6) o destinador é, nos dois casos um homem anônimo, mas tomado numa situação precisa (...);

7) o provérbio pode, como o slogan, anunciar ou resumir um discurso (...);

8) como o slogan, o provérbio pode reduzir-se a uma frase nominal ou mesmo a um sintagma (...);

9) como a do slogan, a verdade que o provérbio enuncia surge como sumária (...);

10) enfim, a concisão é essencial ao provérbio como ao slogan(...).

(Reboul, 1986: 139-141)

O que fará de um provérbio um slogan não serão outras particularidades senão a intenção da comunicação e o modo de veiculação.


REFERÊNCIAS
HOLANDA, Aurélio B. -Novo Dicionário Aurélio, 1975, 1aEd., Nova Fronteira - Rio de  Janeiro; Magalhães Jr.- Dicionário Brasileiro de Provérbios,  Locuções e Ditos  Curiosos - 1974 - 3aEd.-Ed.Documentário - Rio de Janeiro.

IASBECK, Luiz. "A arte dos slogans", Capítulo II - Annablume, 2002, São Paulo.


Textos:

Adágio: uma máxima, um provérbio, um ditado....

REVISITANDO O CONCEITO DE PROVÉRBIO







Dossiê | Gênero e ensino de Português: o caso da Olimpíada PDFEPUB

Apresentação do dossiêPDFEPUB
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A Olimpíada de Língua Portuguesa e os caminhos da escrita na escola pública: uma introdução
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Escrever poemas: vozes em busca de um autor



Ana Elvira Luciano Gebara
A escrita do gênero memórias literárias no espaço escolar: desafios e possibilidadesPDFEPUB
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No limiar da persuasão: o movimento argumentativo na escrita de artigos de opinião por estudantes brasileiros
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Nota de leitura | Multiletramentos na escola | Roxane Rojo; Eduardo Moura (orgs.)PDFEPUB
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Nota de leitura | Linguagem escrita e alfabetização | Carlos Alberto FaracoPDFEPUB
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Outros Sítios

A ESCRITA DE TEXTOS DE PESQUISA NA ESCOLA

AVALIAÇÃO FORMATIVA - SEQUÊNCIA DIDÁTICA

COMPETÊNCIA LEITORA

MAPAS TEXTUAIS

REGISTRO

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Um comentário:

  1. Em primeiro lugar, parabéns pelo trabalho desenvolvido no blogue. Eu sou estudante e, neste momento, tenho que desenvolver uma sequência didática. O primeiro passo consiste na elaboração de dois cadernos de encargos (um destinado ao professor e outro aos alunos). Tratam-se de cadernos do género textual narrativo. Será que me poderia informar mais sobre estes cadernos? Também necessitava de ajuda, na forma de analisar esse género, pois tenho que detalhar todos os níveis do folhado textual. Agradeço, desde já.

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Grata pela sua participação.
[]s.
Katty Rasga