segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FELIZ 2013


  1. "Para você ganhar belíssimo Ano Novo
    cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
    Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
    (mal vivido talvez ou sem sentido)
    para você ganhar um ano
    não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
    mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
    novo
    até no coração das coisas menos percebidas
    (a começar pelo seu interior)
    novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
    mas com ele se come, se passeia,
    se ama, se compreende, se trabalha,
    você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
    não precisa expedir nem receber mensagens
    (planta recebe mensagens?
    passa telegramas?)

    Não precisa
    fazer lista de boas intenções
    para arquivá-las na gaveta.
    Não precisa chorar arrependido
    pelas besteiras consumadas
    nem parvamente acreditar
    que por decreto de esperança
    a partir de janeiro as coisas mudem
    e seja tudo claridade, recompensa,
    justiça entre os homens e as nações,
    liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
    direitos respeitados, começando
    pelo direito augusto de viver.

    Para ganhar um Ano Novo
    que mereça este nome,
    você, meu caro, tem de merecê-lo,
    tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
    mas tente, experimente, consciente.
    É dentro de você que o Ano Novo
    cochila e espera desde sempre."

    de Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O audiovisual na sala de aula


O primeiro lado da questão é inequívoco: a linguagem audiovisual está na moda. Embora a relação entre cinema e ensino seja bastante antiga,[3] a abordagem do cinema e da linguagem audiovisual em geral nunca foi tão propalada. O professor orgulhoso da autonomia de seu giz e sua voz está cada vez mais rouco e desacreditado. Espera-se cada vez mais do professor não somente o domínio de sua disciplina específica, mas também o domínio dos equipamentos e recursos tecnológicos. Todo esse rebuliço, cuja face mais evidente é a corrida das editoras para “transpor” os livros didáticos para o formato dos tablets, é, na verdade, o contrário do que parece. Afinal, inserir a linguagem audiovisual sem uma discussão profunda sobre a escola atual ou “transpor” materiais didáticos para os novos recursos tecnológicos são medidas geradoras de uma inserção inócua, um incluir como acessório, sem incorporar de fato.
Tudo leva a crer que caminhamos a passos largos para construir as escolas do século XXI: cada aluno com seutablet e o professor na sua lousa digital. Em um filme hollywoodiano, o professor rouco do começo do filme jogaria o seu giz no lixo na cena final e suspiraria de felicidade ao conversar com os alunos pelo seu smartphone. Assim como em outras áreas da vida contemporânea, na educação também somos levados a acreditar nas soluções fáceis e práticas, associadas a um gradualismo muito bem casado com as demandas de mercado. O consenso acerca da linguagem audiovisual tem se transformado, mais e mais, em um consenso sobre um determinado modelo de inserção da linguagem audiovisual nas escolas. E essa armadilha, montada para atingir toda a sociedade, tem afetado principalmente o professor, pois ele é submetido a esse modelo mediante forte coação da moda audiovisual e tecnológica. Criticar o modelo significa ser submetido, implícita ou explicitamente, a toda uma série de adjetivos crucificadores. Bem ao gosto neoliberal, o que se cria é um caminho único não mais sob a coação direta, expressamente autoritária, mas por meio de um jogo disfarçado, irradiado pelos gestores públicos e pelo mercado, do qual o professor do futuro não pode ficar fora.
O objetivo deste post é duvidar do simplismo tão típico dos nossos tempos e problematizar uma questão aparentemente dada como óbvia: os tabletsnetbooks, as lousas digitais e a linguagem audiovisual estão invadindo as escolas, mas de que maneira e à serviço de qual modelo de educação? Por que a relação entre audiovisual e escola encontra-se bem posicionada na armadilha das “novas tecnologias” e das “novas metodologias” a serem incorporadas de maneira instrumental e gradual? Nessa armadilha, nós professores, figuraremos como consumidores passivos de aparatos eletrônicos e materiais didáticos, reciclados para telas brilhantes, repletas de links alheios aos nossos planejamentos. Ao lado desses aparatos irresistíveis da modernidade, seremos alvos cada vez mais constantes do discurso desqualificador da má formação docente, frequentemente associado aos cursos à distância que pouco tem a ver com uma formação continuada de qualidade. 
Sob o véu inquestionável da imagem em movimento, o que está em jogo não é a aparente derrocada do professor rouco e orgulhoso de seu giz, com o qual ninguém quer se identificar. O que está, de fato, em jogo é a autonomia do professor sobre o seu fazer.[4]Desse modo, não há como discutir essa questão sem uma reflexão mais profunda sobre a escola e o mundo contemporâneo. Buscamos uma reflexão capaz de problematizar o cenário prático e gradual apontado pelos documentos oficiais e por muitos gestores, segundo o qual a relação entre audiovisual e educação se reduz à compra de equipamentos e à formação dos professores para lidar com a nova linguagem em suas disciplinas específicas.
Convido vocês a pensar na seguinte questão: como construir uma escola audiovisual e não apenas uma escola com recursos audiovisuais? 

[1] O “Programa Ampliar” da Prefeitura de São Paulo foi criado pelo Decreto nº 52.342 de 26/05/11 e pela Portaria 2750 da SME de 27 de maio de 2011, com o objetivo de contribuir para a “melhoria do desenvolvimento e das aprendizagens dos alunos”, “o protagonismo do aluno”, “o enriquecimento curricular” e “a melhoria do convívio”. Seu objetivo é desenvolver atividades pedagógicas fora do horário regular de aula. Desenvolvi na EMEF Paulo Colombo, ao longo de 2012, uma oficina de linguagem audiovisual com 4 aulas semanais voltadas para a análise da linguagem audiovisual e seus fundamentos, o enriquecimento do repertório audiovisual dos alunos e também a produção de diferentes produções audiovisuais (curtas documentais, ficcionais, montagens, críticas sobre conteúdos audiovisuais etc.). Alguns dos resultados podem ser vistos no site: http://www.lousaeclaquete.com.br. Acesso: 10/12/2012.
[2] A oficina de cinema Tela Brasil é realizada pela Buriti Filmes em todo o Brasil em associações, ONGs e escolas públicas. O projeto é a realização de uma oficina intensiva ao longo de 11 dias consecutivos, com o objetivo de discutir a linguagem audiovisual e também realizar quatro curtas metragens. No portal Tela Brasil (www.telabr.com.br), há um rico acervo de curtas realizados e também textos, exercícios interativos e orientações didáticas relacionadas ao ensino e à linguagem audiovisual. A experiência da oficina Tela Brasil na EMEF Paulo Colombo foi muito rica e, ainda que rápida, fortaleceu muito o trabalho desenvolvido na escola.
[3] Cf. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. “Documentos não escritos na sala de aula”. In: Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo, Cortez, 2011.
[4] SILVA, Marcos. “A vida e o cemitério dos vivos”. In: SILVA, Marcos (org.). Repensando a história. Rio de Janeiro, Marco Zero, 1984.


 por Thiago de Faria e Silva in http://encuentro.educared.org/?WT.mc_id=Ning_PT_20121217

sábado, 15 de dezembro de 2012

Acordo Ortográfico


«Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando
bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.

Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam. Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.

Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.

Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.

Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar. Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”.
Simples não é? se o som é “s”, escreve-se sempre com s. Se o som é “z” escreve-se sempre com “z”.

Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”. Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de “k”.

Não pensem qe me esqesi do som “ch”.
O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”. Alguém dix “csix” para dezinar o “x”? Ninguém, pois não? O “x” xama-se “xis”. Poix é iso mexmo qe fiqa.

Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x”.

Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex. Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex. O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural.

No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.
Vejamox o qaso do som “j”. Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”. Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”. Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.

É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem! Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex? Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?

Outro problema é o dox asentox. Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.

A qextão a qoloqar é: á alternativa? Se não ouver alternativa, pasiênsia.

É o qazo da letra “a”. Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado. Nada a fazer.

Max, em outrox qazos, á alternativax.
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”. Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o “u”? Para u uzar, não? Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil! Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.

Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”. U mexmu para u som “ê”. Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”. I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex.

Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” - pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.

Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.

Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?»
Maria Clara Assunção

Brasil vai adiar obrigatoriedade do Acordo Ortográfico para 2016

O Governo brasileiro prepara um decreto presidencial para adiar a vigência obrigatória do Novo Acordo Ortográfico, em três anos, para janeiro de 2016, afirma o senador Cyro Miranda, membro das comissões de Educação e de Relações Exteriores.
A prorrogação da vigência do acordo, inicialmente prevista para janeiro de 2013, deve ser concretizada até a próxima quarta-feira, afirmou à Lusa o senador do Partido da Social Democracia Brasileira, que projetou lançar uma iniciativa legislativa, para adiar a aplicação prevista das novas regras.
O texto do decreto presidencial, segundo Miranda, já está pronto no Ministério das Relações Exteriores, esperando pelas assinaturas do ministro Antonio Patriota, titular da pasta, e da Presidente brasileira, Dilma Rousseff.
"Não tem a menor condição de entrar [em vigor] no dia primeiro. O acordo é uma 'colcha de retalhos' e muitos professores ainda não sabem como aplicá-lo", disse Miranda, à Lusa, por telefone.
A iniciativa do adiamento, segundo o senador, surgiu de uma audiência pública realizada com professores de português, destacados no meio literário brasileiro, que criticaram o acordo e fizeram um abaixo assinado, com mais de 20 mil subscritores, contra o atual texto.
Como membro das comissões especializadas do Senado, Cyro Miranda disse que pensou em lançar uma iniciativa legislativa para o adiamento do acordo, mas reconheceu que não havia tempo suficiente para a sua passagem pelo sistema legislativo brasileiro, tendo em conta a obrigatoriedade prevista para janeiro de 2013.
Em conversas com o Ministério da Casa Civil, foi então informado de que a medida seria tomada por meio de um decreto presidencial.
Além do adiamento, o senador diz acreditar que o texto do acordo será revisto.
"O acordo [ortográfico] está muito confuso. Acredito que tanto Portugal como o Brasil vão pedir para que ele seja revisto", disse o senador à Lusa.
A Presidência brasileira foi questionada pela Lusa, mas ainda não se manifestou.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

"as coisas tangíveis 
tornam-se insensíveis 
à palma da mão
mas as coisas findas 
muito mais que lindas, 
essas ficarão." 
— Carlos Drummond de Andrade