terça-feira, 21 de junho de 2011

Normas gramaticais

SEXA
- Pai…
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser "a sexa"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer… Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculina seria "O pal…"
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri…
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática.

Luís Fernando Veríssimo
in "Comédias para se Ler na Escola", Publicações Dom Quixote, 2002, Lisboa. :: 10/11/2005
Sobre o Autor
** Escritor, cronista e jornalista brasileiro, nascido em 26 de Setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

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NOMENCLATURA GRAMATICAL BRASILEIRA

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"O emprego de uma nomenclatura gramatical em franca obsolescência tem um efeito evidente: sua contribuição para ajudar os alunos a desenvolver reflexões e práticas produtivas a partir da sua gramática internalizada é insatisfatória. Isso porque boa parte dessa nomenclatura é baseada não em critérios que priorizam a intuição dos falantes a respeito da língua, mas em um modelo que procura normatizar o idioma, tendo como alvo uma gramática idealizada, muito distante da realidade linguística vivenciada pelos falantes. Resulta daí, em grande parte, o fracasso da disciplina de Língua Portuguesa na formação de alunos que consigam refletir produtivamente sobre os recursos de expressão da sua língua. "

REDEFOR,2011. DISCIPLINA: Funcionamento da Língua - Gramática, Texto e Sentido. Docente responsável: Prof. Dr. Juanito Ornelas de Avelar

Metrópolis - Menas: O Certo do Errado, o Errado do Certo


A exposição "Menas: O Certo do Errado, o Errado do Certo" no Museu da Língua Portuguesa traz as pérolas da linguagem popular. O programa "Metrópolis" é exibido pela TV Cultura de segunda a sexta-feira às 21h40.

Aula de português

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

de Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Resenha

Como um gênero textual, uma resenha nada mais é do que um texto em forma de síntese que expressa a opinião do autor sobre um determinado fato cultural, que pode ser um livro, um filme, peças teatrais, exposições, shows etc. O objetivo da resenha é guiar o leitor pelo emaranhado da produção cultural que cresce a cada dia e que tende a confundir até os mais familiarizados com todo esse conteúdo. Como uma síntese, a resenha deve ir direto ao ponto, mesclando momentos de pura descrição com momentos de crítica direta. O resenhista que conseguir equilibrar perfeitamente esses dois pontos terá escrito a resenha ideal.

No entanto, sendo um gênero necessariamente breve, é perigoso recorrermos ao erro de sermos superficiais demais. Nosso texto precisa mostrar ao leitor as principais características do fato cultural, sejam elas boas ou ruins, mas sem esquecer de argumentar em determinados pontos e nunca usar expressões como “Eu gostei” ou “Eu não gostei”.

Tipos de Resenha

As resenhas apresentam algumas divisões que vale destacar. A mais conhecida delas é a resenha acadêmica, que apresenta moldes bastante rígidos, responsáveis pela padronização dos textos científicos. Ela, por sua vez, também se subdivide em resenha crítica, resenha descritiva e resenha temática.

Na resenha acadêmica crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal para uma produção completa:

1.Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;
2.Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;
3.Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;
4.Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;
5.Analise de forma crítica: Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião. Argumente baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até mesmo utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.
6.Recomende a obra: Você já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de analisar para quem o texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
7.Identifique o autor: Cuidado! Aqui você fala quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor da resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do escritor ou pesquisador.
8.Assine e identifique-se: Agora sim. No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”
Na resenha acadêmica descritiva, os passos são exatamente os mesmos, excluindo-se o passo de número 5. Como o próprio nome já diz, a resenha descritiva apenas descreve, não expõe a opinião o resenhista.

Finalmente, na resenha temática, você fala de vários textos que tenham um assunto (tema) em comum. Os passos são um pouco mais simples:

1.Apresente o tema: Diga ao leitor qual é o assunto principal dos textos que serão tratados e o motivo por você ter escolhido esse assunto;
2.Resuma os textos: Utilize um parágrafo para cada texto, diga logo no início quem é o autor e explique o que ele diz sobre aquele assunto;
3.Conclua: Você acabou de explicar cada um dos textos, agora é sua vez de opinar e tentar chegar a uma conclusão sobre o tema tratado;
4.Mostre as fontes: Coloque as referências Bibliográficas de cada um dos textos que você usou;
5.Assine e identifique-se: Coloque seu nome e uma breve descrição do tipo “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”.
Conclusão
Fazer uma resenha parece muito fácil à primeira vista, mas devemos tomar muito cuidado, pois dependendo do lugar, resenhistas podem fazer um livro mofar nas prateleiras ou transformar um filme em um verdadeiro fracasso.

As resenhas são ainda, além de um ótimo guia para os apreciadores da arte em geral, uma ferramenta essencial para acadêmicos que precisam selecionar quantidades enormes de conteúdo em um tempo relativamente pequeno.

Agora é questão de colocar a mão na massa e começar a produzir suas próprias resenhas!
Resenhas de livros são a melhor forma de conhecermos a opinião da crítica sobre determinada obra.

Muitos livros podem tornar-se best sellers pelo simples fato de obterem uma crítica positiva de algum resenhista famoso ou serem condenados a mofar nas prateleiras se a crítica for negativa.

Aqui você encontra resenhas de livros atuais, best sellers e clássicos da literatura.

Referência
http://www.lendo.org/como-fazer-uma-resenha/

sexta-feira, 17 de junho de 2011

SENTIMOS A FALTA

IMPLEMENTAÇÃO DO CURRÍCULO
Dia 16/JUN - DAS 13h30 ÀS 17h30 - EE Olimpio Catão
Convocação na CIRCULAR 154/2011 GAB
Um (1) professor

EE Dorival Monteiro de Oliveira, Ee Elidia Tedesco de Oliveira, EE Jeni Davi Bacha, EE João Cursino, Ee Maria Sonnewend, EE maria Luiza Medeiros, EE Sonia M A Pereira
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ENCONTROS COM A LITERATURA
Dia 15/jun - 8h às 12h - DIRETORIA DE ENSINO
Convocação na CIRCULAR 183/2011 GAB
Um (1) professor do Ensino Médio

EE Alceu Maynard Araujo, EE Ana Candida B Molina, CEES, EE Dinora Pereira Ramos de Brito, EE Edera Irene P Cardoso, EE Elidia Tedesco de Oliveira, EE Estevam Ferri, EE Francisco Pereira da Silva, EE Jeni Davi Bacha, EE João Cursino, EE Juaquim A Meirelles, EE Jorge Barbosa Moreira, EE José V. Macedo, EE Malba Thereza Campaner, EE Márcia Helena B Loni, EE M Ap V. Madireira Ramos, EE maria Sonnewend, EE Maria Luiza de G. Medeiros, EE Miguel Naked, EE Olimpio Catão, EE Rui Dória, EE São leopoldo, EE Sonia M. A. Pereira, EE Valmar L Santiago, EE Xenofomte Straão de Castro, EE Yoshiya Takaoka, EE Zilah F V Campos

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RECUPERAÇÃO PARALELA - 3º encontro
Dia 24 e 26/maio - DIRETORIA DE ENSINO
Convocação na CIRCULAR 132/2011 GAB
Todos os professores de RP

EE Dinora P Brito, EE Domingos de Macedo Custódio, EE Edgar de Melo, EE Davi Bacha, EE João Cursino, EE José V. Macedo, EE Juvenal Machado Araújo, EE Maria Sonnewend, EE Maria Luiza Medeiros, EE Nelson N Monteiro, EE Valmar L Santiago, EE Yoshiya Takaoka

terça-feira, 14 de junho de 2011

Metodologia de Formação

"A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimento ou de técnicas), mas sim por um trabalho de reflexibilidade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência."
Nóvoa, 1995.

ENCONTROS LITERÁRIOS

Uma Galinha - Clatrice Lispector
Tema: Estudos Literários - “A galinha” – Clarice Lispector
Data: 15 DE JUNHO DE 2011 (QUARTA-FEIRA)
Horário:Orientação Técnica e Videoconferência: DAS 8H ÀS 12H
PCOP: KATTY RASGA
Videoconferencistas:ROSELI CORDEIRO – EQUIPE TÉCNICA DA CENP e NOEMI JAFFE –PROFESSORA DOUTORA
Objetivo:OFERECER AOS ENVOLVIDOS COM O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, A OPORTUNIDADE DE AMPLIAR OS CONHECIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS EM RELAÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS.
Público-Alvo: Professor de Língua Portuguesa, do Ensino Médio e os professores das Oficinas Curriculares Hora da Leitura das ETI.
STREAMING: www.rededosaber.sp.gov.br

PPT DO 2º ENCONTRO LITERÁRIO AQUI

Observações Importantes: LEITURA DO CADERNO DE LITERATURA DO PROFESSOR – ENSINO MÉDIO - VOLUME I - GÊNERO 3 – CONTO – LAÇOS DE FAMÍLIA.

PAUTA

1º - Prática social
8h 00 – Café, recepção e Distribuição do material.
8h 10
* Devolutiva da 1º Trabalho entregue pelos professores e expostos nos murais da Diretoria.
* Leitura da pauta e Socialização da proposta do caderno do professor de LiteraturaV!, pág 29 a 34 – 10 min;
* Leitura do texto – 10 min.
- O que é um LAÇO?
- E laço de família?
- O que iremos ler no conto Uma Galinha?
*Assistir o início deste vídeo abaixo.
Fragmento Parte 1/12 do filme "Cidade de Deus"


- O que a protagonista desta cena inicial (a galinha) estaria sentindo?
- Se você fosse a protagonista desta cena o que você estaria pensando?

2º Problematização
8h 30 – 9h 00 - ATIVIDADE 1
* Discussão sobre o texto e as perguntas de encaminhamento

Ítens para a análise do Conto:

 Quanto à linguagem, quais são as referências que o conto faz às fábulas e aos contos de fadas?
 Na sua opinião, por que não há referências claras ao espaço e ao tempo?
 Verifique algumas metáforas presentes no conto e procure interpretá-las.
 Na sua opinião, por quê, depois de tanta ação, o conto termina tão bruscamente?
 Há alguma contradição na forma como a galinha é descrita?
 Você já ouviu falar em “fluxo de consciência”? Você o reconhece neste conto? Onde?


3º Instrumentalização e Equilibração
9h00 – 11h00 – ATIVIDADE 2 - VC

Prática social final: Avaliação

Análise interessante sobre a obra infantil e as marcas distintivas de sua obra para adultos de Clarice Lispector .
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Conto de Clarice = TENSÃO E INTENSIDADE = Impactante

- Fluxo de consciência: Câmera dentro da cabeça do personagem
- Estranhamento - coisas esquisitas sobre algum objeto
- seres excluídos
- coisas banais
- epifânia - momento de revelação na visa de um personagem a partir de um acontecimento banal.
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O Conto Uma Galinha
de Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare¬cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.
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quinta-feira, 2 de junho de 2011

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Literatura de Cordel em sala de aula

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