domingo, 14 de setembro de 2014

CONECTIVOS

CONECTIVOS

1. (CESGRANRIO – 2011 – FINEP – Técnico – Suporte Técnico) Considere a sentença abaixo.
Mariza saiu de casa atrasada e perdeu o ônibus. As duas orações do período estão unidas pela palavra “e”, que, além de indicar adição, introduz a ideia de

a) oposição
b) condição
c) consequência
d) comparação
e) união

2. (FCC – 2012 – TCE-AP – Técnico de Controle Externo) Preços mais altos proporcionam aos agricultores incentivos para produzir mais, o que torna mais fácil a tarefa de alimentar o mundo. Mas eles também impõem custos aos consumidores, aumentando a pobreza e o descontentamento. (início do 2o parágrafo)
A 2a afirmativa introduz, em relação à 1a , noção de

a) condição.
b) temporalidade.
c) consequência.
d) finalidade.
e) restrição.

3. (FUNCAB – 2010 – SEJUS-RO – Contador) Releia-se o que escreve Beccaria:

“Contudo, se o roubo é comumente o crime da miséria e da aflição, se esse crime apenas é praticado por essa classe de homens infelizes, para os quais o direito de propriedade (direito terrível e talvez desnecessário) apenas deixou a vida como único bem, [.......] as penas em dinheiro contribuirão tão-somente para aumentar os roubos, fazendo crescer o número de mendigos, tirando o pão a uma família inocente para dá-lo a rico talvez criminoso.” (parágrafo 5)
A palavra ou locução que, usada no espaço entre colchetes deixado no período, fortalece a conexão lógica entre as orações adverbiais condicionais e o que ele afirma a seguir é:

a) inclusive.
b) além disso.
c) então.
d) por outro lado.
e) mesmo.

4. (FGV – 2010 – DETRAN-RN – Assessor Técnico – Contabilidade) “… e eu sou acaso um deles, conquanto a prova de ter a memória fraca…”; a oração grifada traz uma ideia de:

a) Causa.
b) Consequência.
c) Condição.
d) Conformidade.
e) Concessão.

5. (FUMARC – 2011 – PRODEMGE – Analista de Tecnologia da Informação) No trecho “Ao tempo de Pilatos e de James Joyce, a linguagem virtual estava longe”. Masalém da realidade física, da palavra impressa, ela servia de símbolo da identidade e da perenidade da comunicação”.

Os termos grifados acima têm, respectivamente, a equivalência de

a) adversidade – causa – tempo.
b) consequência – tempo – adversidade.
c) tempo – adversidade – adição.
d) adição – adversidade – tempo.

6. (COPEVE-UFAL – 2010 – CASAL – Advogado) Em qual período o se é uma conjunção integrante?

a) “Paraquedista se prepara para romper a barreira do som com salto da estratosfera.”

b) “Um tecido comum pegaria fogo se fosse exposto diretamente a essa radiação.”

c) “Sabe-se também que a alimentação materna pode ter impacto na chance de a criança vir a desenvolver câncer.”

d) “Marilyn Monroe morreu aos 36 anos de forma trágica, vítima de uma overdose de medicamentos que até hoje não se sabe se foi intencional, acidental ou provocada por alguma misteriosa conspiração política.”

e) “Não fale rápido demais. Se sua dicção não for boa, ninguém irá entender o que você diz.”

7. (CONSULPLAN – 2006 – INB – Analista de Sistemas) “Já a produção de petróleo não é suficiente para atender à demanda, embora a dependência externa no setor tenha conhecido…” O termo “embora”, nesse fragmento, estabelece relação lógico-semântica de:

a) Condição.
b) Adição.
c) Conformidade.
d) Concessão.
e) Tempo.

8. (CONSULPLAN – 2010 – Prefeitura de Congonhas – MG – Técnico de Laboratório – Informática)

“- Pois é, não jogo futebol, mas tenho alma de artilheiro…” a palavra destacada anteriormente exprime ideia de:

a) Escolha.
b) Contraste, oposição.
c) Finalidade.
d) Explicação.
e) Soma, adição.

9. (NCE-UFRJ – 2010 – UFRJ – Contador) “Dicas para acelerar sem perder o ritmo”. Nessa frase, os dois conectivos sublinhados indicam, respectivamente:

a) direção e negação;
b) comparação e ausência;
c) finalidade e concessão;
d) modo e condição;
e) movimento e modo.

10. (FUMARC – 2011 – Prefeitura de Nova Lima – MG – Procurador Municipal) No Texto lê-se: “A língua que falamos é um bem, se considerarmos “bens” “as coisas úteis ao homem”.
O termo sublinhado, segundo Cunha e Cintra (2009), tem o valor de um (a):

a) construção linguística que apresenta relação causal.
b) sintagma com sentido opinativo, que apresenta uma relação comparativa.
c) conectivo com valor de condição, pois indica uma hipótese.
d) vocábulo gramatical, que serve para adicionar uma idéia a outra.


1. C
2. E
3. C
4. E
5. C
6. D
7. D
8. B
9. C
10.C

PRA RELAXAR

acentuação

coesão interfrásica

completar o texto

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Os conteúdos que mais caem no Enem

Interpretação de textos (56);
Gêneros textuais (24); 
Relação intertextual (20); 
Norma culta x norma popular (15); 
Funções da linguagem (12); 
Literatura e artes (11); 
Regras gramaticais (5); 
Figuras de linguagem (4).

“Adequado versus inadequado”
Além dos conteúdos que privilegiam a leitura e compreensão,  a produção textual que se relaciona com a habilidade de leitura: “compreender a proposta de redação” e “relacionar, organizar e interpretar informações”. 

Sem dominar essas competências, é impossível desenvolver a contento o tema da redação, pois ele é apresentado por meio de um suporte (um ou mais de um pequenos textos) que deve ser muito bem compreendido a fim de que o aluno não se afaste nem fuja do que a banca lhe pede.

Referência: Site da revista “Veja” 

Conecte e organize as partes do texto


PARA RELAXAR ...... 


por Chico Viana
A Competência 3 do Enem se refere à organização e à inteligibilidade do texto. Mais precisamente, à suacoerência. A redação deve expor claramente a tese, ser congruente na sua estrutura e apresentar fatos, opiniões ou propostas que não entrem em contradição com a realidade.

Daí se falar numa coerência interna e numa coerência externa. A primeira depende da articulação dos componentes textuais. Os períodos devem se articular uns com os outros no parágrafo, que por vez deve estar logicamente ligado ao parágrafo seguinte. O efeito desse encadeamento gradativo é a progressão.Entre os problemas que afetam a coerência interna, está o uso inadequado dos conectivos. O papel desses vocábulos, como o nome diz, é ligar as partes do texto. Trocar um por outro gera contradições como as que se veem nos períodos abaixo:

- “O cigarro é uma irracionalidade, mas não podemos aplaudi-lo”. (Se o ato de fumar é irracional, não há contraste em não o aplaudir; a conjunção deve ser por isso, e não “mas”.)

- “Quando primata, a luta travada pelo homem era contra a sobrevivência.” (Se o homem tivesse lutado contra a própria sobrevivência, não teria chegado ao estágio a chegou. Seguramente, lutou por ela.)

- “Em detrimento da sua economia, os EUA aumentaram as chances da extinção da própria humanidade.” (O aluno queria dizer em prol, pois não teria sentido os EUA se recusarem a assinar o Protocolo de Kyoto “em prejuízo” da sua economia.)

Outro fator que compromete a coerência é o mau uso dos chamados operadores argumentativos. Eles estabelecem conexões entre períodos ou parágrafos e servem para indicar a direção argumentativa. Podem traduzir acréscimo (“ademais”, “além disso”), contraste ou ressalva (“já, “em contrapartida”, “por outro lado”), resumo ou conclusão (“em suma”, “diante disso”)  etc. Antes de empregá-los, veja se eles são condizentes com as informações que introduzem.

Por vezes a falha na coerência decorre não propriamente do conectivo, mas da informação que ele antecipa. É o que ocorre nesta passagem: “A dificuldade de se relacionar pode gerar pessoas tímidas, depressivas, que não têm alegria de viver e por isso não conseguem ser éticas.”. Qual a ligação entre ser tímido, depressivo, triste -- e não ter ética? Uma coisa não se segue à outra. O “não se segue” (non sequitur) é um dos problemas lógicos mais comuns nas redações. Outro é a fragmentação do período. Geralmente ela ocorre a partir de um gerúndio ou de um conectivo (conjunção ou preposição). A passagem abaixo exemplifica os dois casos:

“O Brasil, por participar do Terceiro Mundo, possui um certo atraso em vários setores, como a industrialização. Tendo com o passar do tempo cicatrizes que deixaram marcas em seu desenvolvimento. Apesar de possuir atualmente, um amadurecimento nos diversos setores da sociedade.”

O gerúndio fragmenta a frase por não vir acompanhado de uma oração principal. Já a locução prepositiva o faz por se ligar à oração anterior e, diante disso, não poder vir após um ponto. A refeitura dá uma melhor ideia do problema anterior: “O Brasil, por participar do Terceiro Mundo, está atrasado em vários setores, como a industrialização. Esse atraso produziucicatrizes que deixaram marcas em seu desenvolvimento, apesar de o país ter amadurecido em vários aspectos.”

Desconhecer o sentido das palavras também leva à incoerência. Numa redação sobre os males do fumo, um aluno escreveu: “Sou a favor da banalização do cigarro, pois tenho um parente que todos os dias sofre as consequências que o fumo traz.” É contraditório ser a favor da vulgarização de um vício que causa danos a alguém da família. O estudante confundiu “banalização” com “erradicação” ou coisa parecida (para saber mais sobre precisão semântica, leia nossa postagem sobre o assunto neste blog).  

A coerência externa decorre da pertinência e da verossimilhança das afirmações; o que se diz não pode ser desmentido pela realidade. Numa redação sobre o rolezinho, um de nossos alunos não observou esse princípio: “O que está acontecendo é que as populações das classes baixas estão entrando nesses lugares, e roubando objetos pessoais dos que pertencem às altas classes sociais.” Quem leu sobre o rolezinho sabe que ele não foi bem isso. O aluno utilizou uma atitude ocasional ligada ao fenômeno para caracterizá-lo. É esse o risco de se pronunciar sobre temas polêmicos sem estar bem informado.

O que o estudante fez se aproxima de outro desvio condenável, representado pelas generalizações. Quanto mais genérica é a afirmação, menos consistente ela se torna. Dizer que os jovens modernos são viciados na internet tem muito menos solidez de que afirmar que “grande parte dos jovens de hoje perde horas navegando na Rede”. A segunda afirmativa é confirmável, enquanto que a primeira pode ser contestada com uma única ocorrência em contrário. Delimitar e concretizar é uma das condições para não emitir enunciados genéricos, que não encontram correspondência na realidade.

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O valor semântico das preposições


por Chico Viana
A preposição estabelece uma relação de subordinação entre dois termos. O segundo termo, ou consequente, é um substantivo, um pronome ou um verbo no infinitivo. Por exemplo: Gosto decinema, Espero por você, Penso em viajar. Poucos atentam para o fato de que esses conectivos têm valor semântico. Embora sejam vocábulos relacionais, preservam um discreto conteúdo significativo e exigem rigor no seu emprego.

Quando "se conversa com alguém", a ideia de contato entre os interlocutores (presente no prefixo) se confirma ou reitera no uso da preposição "com", que introduz o objeto indireto (Ninguém conversa "em alguém", ou "por alguém"). O mesmo se dá com o verbo "concordar". Já em "discordar" o prefixo significa afastamento, que é um dos valores da preposição "de". Então se discorda "de alguém" ou "de alguma coisa".

Ninguém precisa saber etimologia para usar bem as preposições. Basta ficar atento à regência, ou seja, ao tipo de conectivo que os verbos transitivos indiretos "pedem" antes de seus complementos. Por vezes mais de uma preposição é possível, por vezes não "(Luta-se com oucontra alguém", por exemplo).

Alguns problemas frequentes na escolha das preposições aparecem nas passagens abaixo, retiradas de redações:
1 - "Discordo plenamente com o seu ponto de vista"
2 - "É preciso refletir em cima das razões que levam a nossa educação a ser tão ruim."
3 - "Nietzsche critica o fato de as pessoas basearem a autoestima de acordo com a imagem que os outros têm de nós."
4 - "A prova teve que ser adiada em função do alto número de candidatos."
5 - "Papai sempre deu valor ao estudo. Essa herança foi herdada por meu avô."

É inadequado, como vimos, dizer que alguém "discorda com alguém ou alguma coisa". Certamente o engano se deve à influência do verbo "concordar", cujo complemento é introduzido por essa preposição (curiosamente, ninguém diz "concordo de alguém ou algo").

Na construção "refletir em cima de", em vez de "sobre", ocorre uma tradução errônea deste último conectivo. Ele tem entre seus sentidos o de "posição superior", mas esse valor só aparece quando a preposição introduz adjunto adverbial (O livro está "sobre a mesa", ou seja, "em cima da mesa"). Não tem cabimento estendê-lo a construções com objetos indiretos.

O verbo "basear" rege complemento com a preposição "em". Assim, baseia-se a autoestima "na imagem" (e não "de acordo com a imagem") que os outros têm de nós. Semelhantemente, é inadequado trocar "em razão de" por "em função de". A primeira locução tem valor causal, por isto se ajusta melhor à frase do aluno (a prova foi adiada por causa doalto número de candidatos). A segunda, que significa "na dependência de", seria pertinente numa construção do tipo "Ele vive em função do dinheiro dos pais."

No último exemplo, o uso da preposição "por" (e não "de") sugere que o hábito do estudo se transmitiu, hereditariamente, do pai ao avô! Isso mostra que o emprego indevido das preposições não apenas infringe a norma culta. Também pode afetar a coerência. Usar corretamente esses e outros conectivos (como as conjunções e os pronomes relativos) concorre para conferir unidade ao texto. Ou, como diz Umberto Eco, para lhe dar "beleza lógica".
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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

SOBRE ARTISTAS

VISTA CANSADA
  Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê  que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que o roía – e daquele tiro brutal.
  Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isso: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
  Você sai todo dia, por exemplo,  pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
  Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
  Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.

Otto Lara Resende 

O MOVIMENTO PENDULAR DAS ESTÉTICAS

As obras literárias, embora possuam linguagem subjetiva, carregam consigo valores, pensamentos e costumes de épocas.



Esses valores, na literatura, desaparecem e voltam a se reafirmar,  mais tarde, em outros momentos literários. Funcionam mais ou menos como um pêndulo ou um círculo vicioso; podemos verificar perfeitamente esse retorno ao passado através do seguinte gráfico:

Classicismo, o Arcadismo, o Realismo/Naturalismo e o Parnasianismo são movimentos que retomaram as fontes da Antiguidade Clássica; enquanto o Barroco, o Romantismo e o Simbolismo perfilam-se como movimento que, opondo-se aos primeiros buscam o “eu”, o subjetivismo da era medieval. O impressionismo e o Modernismo ficariam na intersecção das duas tendências, na tentativa de conciliação do objetivismo e do subjetivismo.

Classicismo.
Essa escola literária decorre da “ressurreição” dos escritores da Antiguidade Clássica, cuja leitura influenciava o modo de viver e de se expressar da época, vindo ao encontro dos anseios do homem renascentista, uma vez que a cultura grega já se caracterizava por uma visão antropocêntrica. O homem, não Deus, passa a ser a medida de todas as coisas, o senhor do mundo, sem medo das superstições que marcaram a época Medieval.

Historicamente o Renascimento foi um período de grandes transformações culturais, políticas e econômicas que caracterizaram a Europa dos séculos XVI e XVII. Dentre elas, podemos destacar o fim do feudalismo e o crescimento das cidades e do comércio.   
  
A arte da época é muito influenciada pelos padrões greco-latinos, que explora os temas mitológicos e modifica os próprios temas cristãos.

                      “Transforma-se o amador na coisa amada
                               Por virtude do muito imaginar
                               Não tenho, logo, mais que desejar,
                               Pois em mim tenho a parte desejada.”

Fragmento da obra de Camões no qual percebemos a valorização humana e a expressão do amor através de uma concepção racional .
                       
Barroco
século XVII
Estética literária que  se caracteriza pela existência de conflitos de ordem política, religiosa, econômica e social. As idéias da Reforma Protestante começam a ser combatidas com mais rigor através da Contra-Reforma. Surge então uma profunda reação àquela visão antropocêntrica de mundo cristalizada no Renascimento, propondo uma volta ao medievalismo e à autoridade da Igreja e do rei.

Esse retorno à visão medieval de mundo implicaria na perda da soberania conquistada pelo homem renascentista. Confrontam-se, por isso, duas forças opostas: antropocentrismo e teocentrismo.

Tentando conciliar esses dois elementos, o homem vive a tensão que marca a maneira de pensar, as concepções sociais, políticas e artísticas da época. No Brasil, essa fase é bem representada pelo Padre Antonio Vieira e pelo escritor Gregório de Matos Guerra.

                        “Porém, se acaba o sol, por que nascia?
                               Se tão formosa a luz é, por que não dura?
                               Como a beleza assim se transfigura?
                               Como o gosto da pena assim se fia?”
                                                                              (Gregório de Matos Guerra)
É dessa época também, as obras do famoso escultor brasileiro Antônio Francisco Lisboa, cujo pseudônimo é “Aleijadinho.”

Arcadismo
Durante a segunda metade do século XVIII, a Europa passa por uma importante fase de transformação cultural. É o “século das luzes”, do Iluminismo.
Na literatura surge o Arcadismo, período que se  caracteriza pelo restabelecimento do equilíbrio clássico, rompido durante o período barroco. A dúvida, a angústia vividas durante a escola anterior, são substituídas pelo otimismo, pela volta à simplicidade, à natureza, como constatamos através do soneto de Cláudio Manuel da Costa.

                                               Soneto LXII
                               Torno a ver vos, ó montes; o destino
                               Aqui me torna a pôr nestes oiteiros
                               Onde em tempo os gabões deixei grosseiros
                               Pelo traje da Corte rico e fino
                              
Aqui estou entre Almendro, entre corino,
                               Os meus fiéis, meus doces companheiros,
                               Vendo correr os míseros vaqueiros
                               Atrás de seu cansado desatino.

                               Se o bem desta choupana pode tanto,
                               Que chega a ter mais preço e mais valia,
                               Que a Cidade o lisonjeiro encanto;

                               Aqui descanse a louca fantasia;
                               E o que até agora se tornava em pranto,
                               Se converta em afetos de alegria.
                       
Romantismo
Uma outra estética literária surge na Alemanha e na Inglaterra, ainda entre o final do século XVIII e início do século XIX. O movimento que primava pelo subjetivismo, pelo individualismo.

Posteriormente, essa escola se espalhou  por toda a Europa através da França, tendo como lema os ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade (bandeira da Revolução Francesa – 1789). A essa euforia é somada a liberdade das idéias, das artes, dos gêneros literários: pode-se escrever o que se pensa e o que se sente. É a hora e a vez da expressão subjetiva, é o coração que percebe o mundo ao seu redor.

Nessa fase, os europeus redescobriram a Idade Média. O Cavaleiro das Cruzadas foi reabilitado. A espontaneidade e a musicalidade da lírica trovadoresca substituíram a erudição e a disciplina clássicas.

No Brasil, como não tivemos Idade Média, nossos românticos buscaram resgatar o índio como nosso legítimo antepassado nacional. Em I-Juca Pirama, o poeta Gonçalves Dias enaltece o índio brasileiro pela sua honra, força e coragem. Veja um fragmento desta obra.
                           

                            ( ... )
                               Meu canto de morte,
                               Guerreiros, ouvi:
                               Sou filho das selvas,
                               Nas selvas cresci;
                               Guerreiros, descendo
                               Da tribo tupi
                            Da tribo punjante

                               Que agora anda errante
                               Por fado inconstante,
                               Guerreiros, nasci:
                               Sou bravo, sou forte
                               Sou filho do Norte;
                               Meu canto de morte,
                               Guerreiros, ouvi
                               ( ... )


O índio também é abordado por José de Alencar em seus romances. Em “Iracema”, o escritor retrata a época de formação do Ceará, mostrando o nativo brasileiro em contato com o branco colonizador ( Iracema / Martim ). Já em “Ubirajara” ele apresenta o índio em seu estado mais puro, pré-cabralino.

E como estamos falando em José de Alencar, é importante lembrar que esse grande romancista deixou também registrados, em sua obra, valores da sociedade do século XIX. Vários de seus romances têm como assunto a vida na corte, seus costumes, hábitos e convenções. São os chamados “romances urbanos”, cujo objetivo era revelar a sociedade carioca da época. Em “Senhora”, por exemplo, ficam evidentes esses valores, mostrando o casamento como uma transação comercial, uma forma de ascensão social.

Realismo/ Naturalismo e o Parnasianismo
Correntes artísticas mais expressivas do final do XIX.
Essa fase teve, como pontos culminantes, a Revolução Industrial e o avanço científico e tecnológico que levaram a profundas transformações na vida, na arte e no pensamento da época. Privilegiou-se a intelectualidade nos bares boêmios; o materialismo opõe-se à metafísica, à religião e a tudo que escapasse aos limites da matéria. A situação das massas trabalhadoras nas cidades industriais, a explosão urbana, a eletricidade, o telégrafo, criaram uma nova forma de vida antecipadora da civilização industrial do nosso tempo.

Na arte realista, há a introdução de uma grande novidade, que é a representação do real de uma maneira absolutamente isenta de idealização e sentimentalismo. O povo torna-se tema da pintura.

Em nosso país, esses estilos predominaram entre 1881 e 1883. Porém o Parnasianismo aconteceu apenas na França e no Brasil e foi a recuperação dos ideais do Classicismo, representando um retorno aos temas, à arte voltada para o belo, para a verdade e para a perfeição formal. Vejamos alguns exemplos desses estilos na poesia:


                                   Poesia Parnasiana

                        ( ... )
                        Invejo o ouvires quando escrevo:
                               Imite o amor
                        Com que ele, em ouro, o alto-relevo
                        Faz de uma flor.

                        Imito-o E, pois, nem de Carrara
                               A pedra firo:
                        O alvo cristal, a pedra rara,
                     O ônix prefiro.
                            ( ... )    ( Olavo Bilac )


                         Poesia Realista

                Odeio as virgens pálidas cloróticas
                Belezas de missal que o Romantismo
                Hidrófobo apregoa em peças góticas
                Escritas nuns acessos de histerismo

                                               (Carvalho Junior)
Na prosa realista, temos Machado de Assis que procura mostrar em seus romances o gosto pela análise psicológica das personagens, revelando uma preocupação cada vez maior pela análise do comportamento humano nos seus motivos mais íntimos. Essa introspecção na vida humana e a profunda sondagem psicológica acabam por mostrar uma outra dimensão da realidade, além das aparências sociais. Essas características podem ser estudadas com detalhes nas obras realistas desse escritor ( “Dom Casmurro”,”Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Quincas Borba” ) e também em seus contos.

Já as tendências naturalistas ficam bem acentuadas nas obras de Aluísio Azevedo, principalmente em “O Cortiço.” Esse escritor apresenta, na obra, situações que privilegiam o exterior das personagens, seres arrastados pela força do instinto, pelas pressões do meio, pelos apetites sexuais ou por suas heranças biológicas e psíquicas.

Simbolismo
final do século XIX
Se manifestou através de uma forte reação ao espírito científico e materialista. Esse período é um retorno ao subjetivismo romântico, ao predomínio do “eu” da imaginação e da emoção, ainda de modo mais profundo, principalmente no que diz respeito à religiosidade e ao misticismo. Nota-se também uma preocupação formal, porém visando à sonoridade do texto. 

          “Eternas, imortais vivas
          Da Luz , do Aroma, segredantes vozes
          Do mar e luares de comtemplativas
          Vagas visões volúpicas, velozes.”

Nas duas primeiras décadas do século XX, o Brasil passa por uma fase bastante conturbada. Vários focos de agitação abalam o país. Entre eles, a Guerra dos Canudos, a revolta contra a vacina obrigatória no Rio de Janeiro, a política do café com leite (São Paulo/Minas).O centro econômico e cultural desloca-se para o Sudeste do país. São Paulo urbaniza-se rapidamente. O operariado começa a se organizar.
Essa inquietação social interna intensifica-se quando sobrevém a Primeira Guerra Mundial, na qual o Brasil entra em 1917.

Pré-Modernismo
Nesse contexto histórico-cultural surge o período cultural brasileiro de transição que vai de 1902 (publicação de “Os Sertões”) à Semana de Arte / 1922.
Por ser uma literatura de transição apresenta duas facetas bem distintas: uma de caráter conservador, pela permanência de elementos naturalistas e parnasianos e outra de caráter renovador,  pelo interesse crítico na realidade brasileira, revelando as tensões da época.
Essa segunda tendência aparece sobretudo na prosa. Em “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, por exemplo, Lima Barreto mostra a personagem Isaías, um mulato que procura emprego no Rio de Janeiro; nessa obra o escritor aborda o problema do preconceito racial reinante na época.
Outros autores também retrataram problemas sociais como agitações e guerras (“Os Sertões” de Euclides da Cunha); o drama do imigrante (Canaã, de Graça Aranha)e a situação do caipira paulista (“Urupês” e “Cidades mortas” de  Monteiro Lobato).
                   
 Modernismo
Conforme já vimos no início do século XX, houve uma inquietação política e cultural, não apenas no Brasil, mas no mundo. Portanto, esse novo estilo literário foi um movimento de âmbito bastante largo que promoveu a reavaliação da cultura brasileira, inclusive porque coincidiu com outros fatos importantes no terreno político e artístico, dando a impressão de que na altura do Centenário da Independência (1922), o Brasil efetuava uma revisão de si mesmo e abria novas perspectivas, diante das transformações mundiais da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que aceleraram o processo de industrialização e de prosperidade.
Em 1929, o mundo atravessa uma enorme crise financeira que levará à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foi nesse período de insatisfação, contradição, inquietação e desequilíbrio que surgiram movimentos artísticos voltados para uma nova interpretação e expressão da realidade. Esses movimentos ficaram conhecidos como vanguardas européias e exerceram  influência sobre o modernismo, não só na literatura, mas também na arte.  Diversos caminhos foram trilhados pelos artistas modernos na pintura.
 Essa estética aconteceu, em nosso país, em três fases.  primeira foi no período de  destruição, a fase do experimentalismo, do espírito revolucionário cuja preocupação era definir as novas idéias, atacando de forma agressiva a literatura tradicionalista.
Esse caráter revolucionário estimulou o aparecimento de numerosos grupos, descentralizando a literatura. Apesar das diferenças entre os diversos grupos da primeira fase, há em quase todos eles um acentuada inspiração nacionalista que pode ser considerada uma das características básicas do modernismo.  Podemos destacar nessa fase Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e outros.

                   Amo São Paulo em meio à multidão dos seus operários:
                         Um que trabalha no andaime de um gigantesco edifício, e agora mesmo
                       Atravessou lá em cima uma tábua suspensa tão alto que a todo instante
                         Entra e sai na fumaça de uma nuvem que passa ?
                                           ( ... )   ( Cassiano  Ricardo )
                                                      
Passada a fase mais agressiva e polêmica, observamos que a literatura brasileira começa a entrar num período de construção, de amadurecimento, sobretudo com a estréia de uma geração de escritores que revelariam, em suas obras, uma grande preocupação com os problemas sociais de seu tempo. Nessa Segunda fase do nosso Modernismo situada entre 1930 e 1945 surge o romance social nordestino, de linha neo- realista, cuja intenção principal foi denunciar os problemas econômicos do Nordeste, o drama dos retirantes e a exploração do povo num sistema social injusto.

Dentre os escritores dessa época destacam-se: Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e outros. Em “Vidas Secas”, Graciliano Ramos faz uma análise da situação precária em que vivia o homem do Nordeste brasileiro. Precária não só pelas condições adversas da geografia, mas também pela ausência da mais elementar instrução e pelos desmandos a que o trabalhador era submetido pelos proprietários de terras.

Na poesia, abandona-se o espírito destrutivo e irreverente dos primeiros momentos e os poetas passam a desenvolver suas próprias tendências, buscando as linhas social, religiosa, espiritualista, amorosa e recorrendo, inclusive, a formas poéticas tradicionais como o soneto que podemos encontrar nas obras de Vinícius de Moraes.

A partir de 1945, tivemos a terceira fase do modernismo brasileiro, denominada por alguns críticos de Pós- Modernismo. Ainda que seja difícil descrevermos todas as correntes literárias desse período, apontamos algumas tendências que nos ajudarão a compreender os caminhos trilhados pela prosa e poesia desse momento. Em primeiro lugar, destaca-se o interesse pela análise psicológica das personagens notadamente nas obras de Clarice Lispector. Essa abordagem também foi tomada por Dalton Trevisan, porém de forma mais direta e objetiva, conduzindo o leitor ao mais profundo das misérias do cotidiano e aos mecanismos de opressão do mundo contemporâneo.

Outra tendência é o chamado realismo fantástico que expressa uma visão crítica das relações humanas e sociais através de narrativas que transfiguraram  a realidade. Essa característica é bem representada nas obras de Moacir Scliar e José J. Veiga.

 Por último, devemos fazer referências ao regionalismo, tendência que desde o Romantismo constituído fonte preciosa para a literatura brasileira. Essa intenção de representar o interior do país, seus tipos humanos, seus problemas sociais , é comum nas obras de Guimarães Rosa, escritor considerado marco inicial desse tipo de prosa moderna.

 Em se tratando da poesia brasileira, esse foi um período em que coexistiram diferentes tendências. A exemplo da chamada de geração de 45,  grupo de poetas que rejeitaram o verso desleixado modernista e  revalorizavam a acuidade artesanal com a linguagem poética. Veja um exemplo da produção dessa época.
                             ( ... )
                              
                               Somos muitos Severinos                                  E se somos Severinos
                               Iguais em tudo na vida;                                   Iguais em tudo na vida
                               Na mesma cabeça grande                                               Morremos de morte igual,
                               Que a custo é que se equilibra                         Mesmo morte severina
                                                                                                                                             ( ... )

Expressionismo
 No final do século XIX
O objetivo era expressar as emoções e o mundo interior do homem através de distorções violentas. Em 1907, Pablo Picasso desenvolveu as idéias do Cubismo. Essa pintura cubista caracteriza-se pelas formas geométricas. A obra que marca o início desse movimento é “Les demoiselles d`Avignon”.

Surrealismo
Outro importante movimento artístico dessa época que busca libertar o artista dos limites da razão, propondo a expressão plena da imaginação. No campo da pintura temos como representante Salvador Dali, entre outros.
No Brasil, nossos artistas se beneficiaram do clima da Semana de Arte Moderna de 1922. Exemplos das diversas tendências da pintura brasileira moderna podem ser vistos em “Tropical” de Anita Malfatti,  “Samba” de  Di Cavalcanti, “Abaporu” de Tarcila do Amaral e “Menino morto” de Portinari.

Na década de 50, surgiu um movimento poético inovador chamado Concretismo, sendo Décio Pignatari um de seus principais representantes.

                                                                           Coca- cola
                               Beba                      coca                       cola
                               Babe                                                     cola
                               Beba                      coca
                               Babe                      cola                        caco
                                Caco
                               Cola
                                                               Cloaca  
(Décio Pignatari)

Na década de 60, surge uma tendência denominada poesia Práxis, cuja intenção era estabelecer uma ponte entre o poeta e a vida social. . É o que podemos observar no poema:
                                                                       Força na força
                               ( ... )
                               a palavra na boca                                                             a rolha fofa sem força
                               na boca a palavra: força                                 a palavra em folha solta                                 
                               a força da palavra força                                  a força da palavra força
                               a palavra rolha fofa                                                         a palavra de boca em boca
                                                                                                                                             (...) Mário Chamie
Ainda na década de 60, alguns poetas manifestaram-se contrários aos excessos de teorização e experimentalismo, propondo a volta ao cotidiano sofrido do homem comum.

Nessa linha poética, encontramos Ferreira Gullar que abandona sua atividade concretista aderindo à poesia social. É dele esse poema:

                                        Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
A luz o telefone.
               ( ... )
 A partir de 1968, as vanguardas pareciam já ter exaurido suas propostas. Os poetas passam, então, a investir na música popular . As escolas e universidades descobrem o texto da música como produto estético a ser analisado.

                               Pra não dizer que não falei das flores
                              
                               Caminhando e cantando e seguindo a canção           Vem, vamos embora,
                               Somos todos iguais, braços dados ou não,                   Que esperar não é saber
                               Nas escolas, nas ruas, campos, construções                Quem sabe faz a hora,
                               Caminhando e cantando e seguindo a canção           Não espera acontecer
                                                                                                                                                             ( ... )

Nos anos 70, a poesia marginal surgiu como uma recusa dos poetas em relação ao métodos tradicionais de produção e distribuição de suas obras. A venda desses trabalhos se dava, geralmente, de mão em mão, sendo realizada muitas vezes pelo próprio autor. Eram  poesias: ora de expressão subjetiva, pessoal; ora de denúncia. A obra dos “marginais” de 70 obteve maior aceitação que a dos grupos anteriores.Um exemplo de poeta dessa fase é Paulo Leminsky.

                        “nuvens brancas
                               passam
                               em brancas nuvens”

E o mundo hoje? Para onde caminha? E o homem contemporâneo?   
Seria este um momento de transição? Que valores reafirmaríamos no que concerne à literatura? Estaria o homem vivendo um momento semelhante ao que marcou a passagem do Barroco para o Arcadismo?                 
POR: Marlene Aparecida Scoparo e Odalvina Maria Zanetti de Oliveira
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/folhas/frm_detalharFolhas.php?codInscr=104&PHPSESSID=2014020914031779