terça-feira, 14 de junho de 2011

ENCONTROS LITERÁRIOS

Uma Galinha - Clatrice Lispector
Tema: Estudos Literários - “A galinha” – Clarice Lispector
Data: 15 DE JUNHO DE 2011 (QUARTA-FEIRA)
Horário:Orientação Técnica e Videoconferência: DAS 8H ÀS 12H
PCOP: KATTY RASGA
Videoconferencistas:ROSELI CORDEIRO – EQUIPE TÉCNICA DA CENP e NOEMI JAFFE –PROFESSORA DOUTORA
Objetivo:OFERECER AOS ENVOLVIDOS COM O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, A OPORTUNIDADE DE AMPLIAR OS CONHECIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS EM RELAÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS.
Público-Alvo: Professor de Língua Portuguesa, do Ensino Médio e os professores das Oficinas Curriculares Hora da Leitura das ETI.
STREAMING: www.rededosaber.sp.gov.br

PPT DO 2º ENCONTRO LITERÁRIO AQUI

Observações Importantes: LEITURA DO CADERNO DE LITERATURA DO PROFESSOR – ENSINO MÉDIO - VOLUME I - GÊNERO 3 – CONTO – LAÇOS DE FAMÍLIA.

PAUTA

1º - Prática social
8h 00 – Café, recepção e Distribuição do material.
8h 10
* Devolutiva da 1º Trabalho entregue pelos professores e expostos nos murais da Diretoria.
* Leitura da pauta e Socialização da proposta do caderno do professor de LiteraturaV!, pág 29 a 34 – 10 min;
* Leitura do texto – 10 min.
- O que é um LAÇO?
- E laço de família?
- O que iremos ler no conto Uma Galinha?
*Assistir o início deste vídeo abaixo.
Fragmento Parte 1/12 do filme "Cidade de Deus"


- O que a protagonista desta cena inicial (a galinha) estaria sentindo?
- Se você fosse a protagonista desta cena o que você estaria pensando?

2º Problematização
8h 30 – 9h 00 - ATIVIDADE 1
* Discussão sobre o texto e as perguntas de encaminhamento

Ítens para a análise do Conto:

 Quanto à linguagem, quais são as referências que o conto faz às fábulas e aos contos de fadas?
 Na sua opinião, por que não há referências claras ao espaço e ao tempo?
 Verifique algumas metáforas presentes no conto e procure interpretá-las.
 Na sua opinião, por quê, depois de tanta ação, o conto termina tão bruscamente?
 Há alguma contradição na forma como a galinha é descrita?
 Você já ouviu falar em “fluxo de consciência”? Você o reconhece neste conto? Onde?


3º Instrumentalização e Equilibração
9h00 – 11h00 – ATIVIDADE 2 - VC

Prática social final: Avaliação

Análise interessante sobre a obra infantil e as marcas distintivas de sua obra para adultos de Clarice Lispector .
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Conto de Clarice = TENSÃO E INTENSIDADE = Impactante

- Fluxo de consciência: Câmera dentro da cabeça do personagem
- Estranhamento - coisas esquisitas sobre algum objeto
- seres excluídos
- coisas banais
- epifânia - momento de revelação na visa de um personagem a partir de um acontecimento banal.
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O Conto Uma Galinha
de Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare¬cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.
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[]s.
Katty Rasga