quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ler é fazer amor com as palavras

“... a leitura é um processo de interlocução entre leitor / autor mediado pelo texto. Encontro com o autor,ausente, que se dá pela sua palavra escrita.” para Geraldi (1999, p. 91)

Rubem Alves (2001) acrescenta: o ato da leitura é uma experiência para ser vivida com prazer, experiência vagabunda, ou seja, solta, sem cobranças, sem relatórios, que não se deve ler para responder questionários, ou para interpretação, mas ler por puro prazer. Ler pelo simples gosto de ler. O conhecimento, a interpretação, o questionamento, vêm por acréscimo.

Uma leitura, quando é feita por prazer, com gosto e que busque a fruição, beira o belo e o misterioso.

No entanto, os programas escolares esquecem a essência do texto, trabalham apenas com o superficial. Quando não retiram dele o tema, o lugar, o tempo, o espaço, as personagens principais, usa-o para praticar a gramática. Essas coisas nada têm a ver com a interpretação. A interpretação acontece a partir daquilo que está escrito, do que toca o coração...

Assim, convém ao professor, ao término de uma leitura, provocar seus alunos. O que é que esse poema lhes sugere? O que é que vocês vêem? Que imagens? Que associações? Dessa forma, em vez do aluno tentar descobrir o que o autor queria dizer com aquelas palavras, ele responderá a questão criando seu próprio texto literário. É melhor responder a um texto com um outro texto do que com uma interpretação, pois cada texto possui característica própria em que predominam a imaginação e a estética.

Os PCN’s e as tarefas de leitura na escola

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tratam, não apenas, mas também da importância da escuta de textos orais e escritos. No entanto, a instituição escola pouco prepara para a atividade de leitura. São raros os exercícios que consideram a faixa etária dos alunos, o ambiente em que vivem, o grau de entendimento, assim como a valorização do conhecimento de mundo deles.

Os Parâmetros curriculares Nacionais sugerem leituras através de jornais, de revistas, de fotos de família, enfatiza a importância de se ler imagens, uma vez que esta, além de ser texto, se compõe como uma unidade de significado. Também sugere que o professor desenvolva práticas leitoras com textos de diferentes gêneros, mas priorizar os que circulam socialmente.

Tais exercícios permitem que o aluno, ao fim de uma leitura expressiva, seja despertado por idéias de intertextualidade, ou seja, é remetido a outros textos já conhecidos. Assim, ocorre uma leitura significativa que pode levá-lo ao prazer, à fruição, à vontade de partilhar as descobertas. Descobertas estas, que ultrapassarão os quatro cantos da sala de aula e ganharão o mundo dos corredores, do pátio...

Dessa forma, leitura é prazer, e por ser prazer, pode ser renovada a cada aula, a cada dia. Por isso, não pensar em leitura como hábito, pois hábito insinua repetição freqüente de um ato, mas pensar a leitura como objeto que leva ao gozo, à fruição... Daí advém a vontade de a ela sempre retornar, já que é do deleite que nasce o desejo.

A leitura para viver, precisa dos mesmos sentimentos: emoção e alegria e tem que ser regada, todo dia. As palavras são portas e janelas. Se debruçamos e reparamos, nos inscrevemos na paisagem. Se destrancamos as portas, o enredo do universo nos visita. Ler é somar-se ao mundo, é iluminar-se com a claridade do já decifrado. Escrever é dividir-se.

O ato de ler consiste em uma atividade de deleite e fruição, a qual leva a um prazer brutal, imediato (sem mediação), precoce (BARTHES, 1977:30). Tudo é arrebatado numa só vez, tudo é jogado, tudo é fruído na primeira vista.

(BARTHES,1977:69). Assim, não confundir prazer com fruição, pois, de acordo Barthes (1977:30-1), se entendo que o prazer e a fruição são forças paralelas, acredito que a oposição entre texto de prazer e texto de fruição está no fato de que este é in-dizível, intransitivo, enquanto o outro é dizível. Ou seja, o prazer é mais fácil, é obtido de forma mais imediata, sem esforço; a fruição, no entanto, decorre do embate, da luta, do esforço de ler. Daí, a fruição dar um prazer mais intenso. Nesse sentido, intui-se que a fruição transcende o prazer.

O que é observado nos depoimentos de Simone Beauvoir, quando se deleitava ao observar a cena de leitura, em casa, junto ao pai, à mãe e à irmã. Também Sartre, no momento em que toma o livro nas mãos e se refugia num cantinho do sótão e de lá sai, apenas, quando aprende a ler. Imagine o gozo que obteve ao descobrir-se leitor! Jorge Amado foi arrebatado ao ouvir as declamações apaixonadas feitas pelo professor de Literatura. A fruição levou-o a produzir textos belíssimos!

Da mesma forma um leitor é tomado quando se entrega ao texto, e pode assim ser encaminhado através de Rubem Alves, Lya Luft, Daniel Pennac ou Bartolomeu Campos Queirós, que também são conduzidos à fruição à medida que constroem textos maravilhosos!

Diante do exposto, esse trabalho, então, permite pensar sobre o quão importante é a prática de leitura para a formação do ser humano, assim como apontar para o fato de que o gosto pela leitura não é intrínseco ao homem, mas pode ser cultivado à medida que o sujeito se constrói como leitor.

Portanto, o ato de ler não se baseia em devorar bibliografias, mas em ler continuamente e com seriedade os livros que os interessem; desfrutar desse prazer, permitir-se às carícias, ao toque. Sucumbir como o sultão, ante à delícia das palavras... Pois, já diz Rubem Alves (2001: Correio popular, Caderno C):

Referência: Maria Anísia Villas-Bôas Tourinho Vidal

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Katty Rasga