quarta-feira, 14 de novembro de 2012

As mulheres de Chico

Já se tornou lugar comum afirmar que, quando se trata de psicologia da alma feminina, só Machado de Assis é páreo para Chico Buarque de  Hollanda.
É vastíssimo o elenco das mulheres de Chico mas, aqui, vamos nos concentrar em algumas delas, escolhidas pelo afeto e pela poesia.
A primeira mulher de Chico que o Brasil conhece é a dona de casa complacente de “ Com açúcar e com afeto”(“fiz seu doce predileto/pra você parar em casa, qual o quê!”), espécie de “Amélia rediviva” disposta a relevar todos os deslizes do seu homem para não perder seu amor.Mais ou menos aparentada dessa mulher passiva, é a próxima musa, Carolina,a contemplativa.Por
ela passava a rosa, a estrela, o barco, mas Carolina persistia trancada no seu mundo sem nada perceber.


E eis que nos aparece a primeira mulher de atitude. A que toma a iniciativa e abandona o homem, fazendo um estrago danado no seu coração e no seu mundo. A Rita(“levou os meus planos, meus pobres enganos/os meus vinte anos, o meu coração…”) é meio musa e anti-musa, porque nem passiva, nem contemplativa, é capaz de puxar o tapete do amado, tema e situação muito raros
numa MPB predominantemente machista de então.


A vida gira e o mundo roda.A partir do final da década de 60 e nos anos subseqüentes,o movimento feminista acelera o seu ritmo mundo afora propondo não apenas mudanças nas relações sociais e nas discrepantes oportunidades entre os gêneros;sugeria uma nova sensibilidade feminina e um outro código de ética afetivo entre parceiros que comungam sonhos e pesadelos.Já não cabe aqui o estereótipo da mulher sofredora quando a relação acaba.Da mulher condenada a um vale de lágrimas de pois de perder seu homem. E Chico responde a tudo isso com a inesquecível personagem de “ Olhos nos olhos”: “Olhos nos olhos/quero ver o que você faz/ao sentir que sem você/eu passo bem demais”.

E nessa esteira da mulher liberada, sem as amarras de séculos e séculos de submissão machista, de uma mulher que constrói uma nova persona social, conhecemos a figura feminina que já não tem recatos nem pudores de confessar, em público, “ a pegada” sexual do seu homem e os caminhos cruzados de erotismo e poesia: “O meu amor/tem um jeito manso que é só seu…/ desfruta do meu corpo/como se meu corpo fosse sua casa, ai!”.

Ufa! O universo feminino de Chico só cabe numa enciclopédia, ou só o Google dá conta.Entretanto, nessa homenagem especial à mulher, que aqui fazemos ,vamos , ainda, e por fim, recorrer a Chico.Para ele, a mulher, qualquer mulher,mas nessa canção nominada Januária é aquela que tem o poder supremo capaz de fazer a natureza curvar-se à sua presença.Diante da qual, “ até o mar faz maré cheia/pra chegar mais perto dela”.

Mulheres, o poder é vosso! Parabéns pelo 8 de Março e por todos os dias.

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[]s.
Katty Rasga