segunda-feira, 20 de agosto de 2007

TURBINANDO 3: DEFINIÇÃO DE GÊNERO

DE ONDE VEM A PALAVRA...

"Gênero" vem do latim generu, que significa família, ou seja, agrupamento de indivíduos ou seres que têm características comuns. Portanto, os gêneros textuais são agrupados por suas semelhanças; nascem de situações de comunicação que ocorrem em uma mesma área de produção de linguagem.

O primeiro do gênero
O filósofo grego Platão (427 aC – 347 aC) foi o primeiro autor a se preocupar em separar as obras literárias em três gêneros: tragédia e comédia (teatro); poesia lírica ou ditirambo (composição poética, que visa festejar o vinho, a alegria, os prazeres da mesa etc., num tom entusiástico e/ou delirante).

Cada situação de comunicação, oral ou escrita, exige uma linguagem própria: sabemos que ao falar com uma autoridade, por exemplo, não nos comunicamos da mesma forma que fazemos quando falamos com nossos familiares. A essas formas de linguagem características de cada situação de comunicação chamamos gêneros do discurso (de texto, textuais, discursivos).

A noção de gêneros discursivos, como instrumento norteador para o ensino de leitura e produção de textos, tem sua base em MIKHAIL BAKHTIN, filósofo russo e estudioso da linguagem. Bakhtin (2000, p.279) define gêneros discursivos como sendo tipos relativamente estáveis de enunciados, presente em cada esfera da atividade humana . Em outras palavras: tratam das formas típicas de enunciados, falados ou escritos, que acontecem em situações e finalidades específicas nas diferentes situações de interação social. Para Bakhtin os gêneros se dicidem em primários e secundários: os primários ocorrem em situações cptidianas e os secundários em situações de comunicação mais complexa (gêneros da área artística, científica, jurídica).

Muitas pesquisas atuais e os PCN indicam que a concepção baktiniana dos gêneros discursivos pode trazer grande contribuição para o desenvolvimento da competência lingüística, textual e discursiva dos alunos.Seguindo-se os PCN (1998, p. 70), o leitor competente necessita ter contato com gêneros que circulam socialmente, assim como reconhecer suas características estruturais.

Segundo Kátia Lomba Bräkling, os gêneros do discurso são um elemento fundamental no processo de produção de textos, porque são os responsáveis pelas formas que estes assumem. Qualquer manifestação verbal organiza-se, inevitavelmente, em algum gênero do discurso, seja uma conversa de bar, uma tese de doutoramento, seja linguagem oral ou escrita. Os gêneros são, portanto, formas de enunciados produzidas historicamente, que se encontram disponíveis na cultura, como notícia, reportagem, conto (literário, popular, maravilhoso, de fadas, de aventuras...), romance, anúncio, receita médica, receita culinária, tese, monografia, fábula, crônica, cordel, poema, repente, relatório, seminário, palestra, conferência, verbete, parlenda, adivinha, cantiga, anúncio, panfleto, sermão, entre outros.

Ainda segundo a autora, [.....]saber selecionar o gênero para organizar um discurso implica conhecer suas características, para avaliar a sua adequação aos objetivos a que se propõe e ao lugar de circulação, por exemplo. Quanto mais se sabe sobre esse gênero, maiores são as possibilidades do discurso ser eficaz.

Os gêneros de texto têm formas estáveis, esperadas, que se repetem em situações de comunicação do mesmo tipo. Quando vamos ouvir um conto de fadas, por exemplo, já sabemos que começará com "Era uma vez...." e que terá personagens e falas próprias desse gênero de texto. Quando lemos uma notícia, sabemos que vamos encontrar o relato de um fato novo e marcante, que sempre começará com uma manchete e seguirá dizendo o que aconteceu, como aconteceu e porque aconteceu esse fato.

Para Marcuschi (1996: p.4), os gêneros textuais são inúmeros, apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição própria. Eles organizam as formas de dizer daquilo que queremos comunicar. Por isso, podemos usar essas formas estáveis para ensinar aos alunos diferentes gêneros de texto que circulam socialmente, ampliando seu poder de comunicação e preparando-os para um melhor exercício da cidadania. Os gêneros são "modos de organização da informação que representariam as potencialidades da língua, as rotinas retóricas ou formas convencionais que o falante tem à sua disposição na língua quando quer organizar o discurso."

O mesmo autor (2002:p.19) concebe os gêneros textuais "como fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social" e acrescenta: "os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia". No entanto, ele adverte que "os gêneros não são instrumentos estanques e enrigecedores da ação criativa", muito pelo contrário, eles se caracterizam "como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos". Marcuschi, ao considerar os gêneros textuais, aborda a imprescindibilidade de tratá-los como fenômenos históricos, relacionados com a vida cultural e social.o autor ressalta que os gêneros surgem, proliferam-se e modificam-se para atender as necessidades socioculturais e às inovações tecnológicas. O autor pontua que: "Os gêneros textuais caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita." (2002: 20) Marcuschi faz a distinção entre gênero, forma concretamente realizada, encontrada nos diversos textos empíricos; e tipo textual, constructo teórico, que abrange categorias determinadas.

Conhecer determinado gênero significa se capaz de prever regras de conduta, seleção vocabular e estrutura de composição utilizadas.

São três os elementos principais que caracterizam o gênero:

- conteúdo temático (assunto, a mensagem transmitida);
- o plano composicional (estrutura formal dos textos pertencentes ao gênero);
- o estilo (leva em conta as questões individuais de seleção e opção: vocabulário, estruturas frasais, preferências gramaticais).

Alguns exemplos de gêneros textuais: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais entre outros.

Esta abordagem teórica, que conduz a uma nova prática de tratamento da linguagem na escola, vem em substituição à classificação tradicional, à trilogia clássica que compreende narração, descrição e dissertação.


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[]s.
Katty Rasga